O Brasil enfrenta uma grave crise de saúde pública relacionada à intoxicação por metanol presente em bebidas alcoólicas adulteradas. Até o momento, as autoridades confirmaram um total de 74 casos de intoxicação, resultando em 24 mortes. O estado de São Paulo concentra a maioria das ocorrências, com 51 casos confirmados e 11 óbitos.
O que é o metanol e por que é tão perigoso?
O metanol é um tipo de álcool utilizado para fins industriais, como solvente e combustível. Quando ingerido, o organismo humano o transforma em substâncias altamente tóxicas. Esses compostos podem causar acidose metabólica, danos neurológicos permanentes, cegueira e, em muitos casos, levar à morte.
Um dos grandes perigos dessa intoxicação é que seus primeiros sintomas são facilmente confundidos com os de uma simples ressaca, o que pode atrasar a busca por ajuda médica especializada.
Sinais de alerta e como agir
De acordo com o Ministério da Saúde, os sinais de envenenamento por metanol geralmente aparecem entre 12 e 24 horas após o consumo. Os sintomas que exigem atenção imediata incluem:
- Dor abdominal intensa
- Náuseas e vômitos
- Confusão mental e tontura
- Alterações na visão, como embaçamento ou sensibilidade à luz
Diante de qualquer suspeita, a orientação é procurar um serviço de emergência sem demora. É crucial informar aos profissionais de saúde sobre o consumo de bebida alcoólica e o contexto em que isso ocorreu. O tratamento para casos confirmados envolve a administração controlada de etanol farmacêutico, que age como um antídoto.
Mercado paralelo: um risco crescente
O cenário é agravado pela dimensão do comércio ilegal de bebidas no país. Um estudo de 2024 realizado pela Euromonitor International para a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas revelou que uma a cada cinco garrafas de uísque ou vodca vendida no Brasil é falsificada.
Durante o pico da crise, a maioria dos casos de intoxicação foi registrada em distribuidoras e adegas, tanto clandestinas quanto formais, mas bares e restaurantes também estiveram envolvidos. Edson Pinto, diretor-executivo da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp), faz um alerta direto: “bebidas alcoólicas nunca devem ser consumidas quando fracionadas em doses provenientes de vendedores ambulantes ou bares informais”.
Dicas essenciais para o consumidor se proteger
Com a proximidade das festas de fim de ano, período de maior consumo, a vigilância deve ser redobrada. Para reduzir os riscos, especialistas e autoridades recomendam:
- Compre apenas em estabelecimentos de reputação conhecida, optando sempre por bebidas lacradas e seladas.
- Desconfie de preços excessivamente baixos, um dos principais indícios de produtos do comércio paralelo.
- Inspecione a garrafa: a tampa deve estar intacta, bem ajustada e com impressões de qualidade. A garrafa não pode apresentar sinais de reutilização, riscos ou acabamento irregular.
- Observe o líquido: a cor e o volume devem ser consistentes com outros produtos da mesma marca, com aspecto limpo e cristalino.
- Conferir os rótulos é obrigatório. Eles devem conter contra-rótulo em português, registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e os dados completos do fabricante.
Além das medidas de prevenção, o Ministério da Saúde orienta os profissionais da área a acionarem o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) de sua região em casos suspeitos. Atualmente, o Brasil conta com 32 centros desse tipo, distribuídos em 19 estados.
A crise do metanol coloca em evidência os perigos do mercado ilegal de bebidas e a importância do consumo consciente, especialmente em um período de celebrações. A atenção aos detalhes na hora da compra pode ser a diferença entre uma comemoração segura e uma tragédia.