
Pois é, parece que o retrato da família brasileira está ganhando novas molduras — e uma delas é bem mais solitária. Dados fresquinhos do IBGE, divulgados nesta sexta-feira (23), jogaram uma luz sobre uma tendência que já vinha sendo sentida no ar: o número de pessoas morando sozinhas no país deu um salto e atingiu a marca de 7,5 milhões de lares unipessoais. Um crescimento nada desprezível de 4,5% em apenas um ano.
Não é só um número, é um fenômeno. E ele fala mais sobre nós do que imaginamos. A pesquisa, parte da PNAD Contínua, mostra que esses domicílios de uma pessoa só já representam 13,6% do total de residências no Brasil. Algo impensável para as gerações anteriores, acostumadas com casas cheias, varal lotado de roupa e mesa farta no almoço de domingo.
Mas o que está por trás dessa fuga da multitudão?
Os especialistas apontam para um caldo de fatores. Primeiro, óbvio: o envelhecimento da população. A gente vive mais, e muitas vezes, viúvos ou divorciados acabam seguindo a vida em suas próprias companhias. É a viuvez solitária, mas também a independência conquistada.
Mas calma, não é só tristeza não. Uma leva enorme de jovens e adultos — ah, os millennials e a geração Z — está priorizando a autonomia. Adiaram ou simplesmente descartaram a ideia de formar uma família tradicional. Querem carreira, querem liberdade, querem controle remoto e silêncio. E quem pode culpá-los?
O problema — porque sempre tem um — é que essa independência tem um preço, e ele não é baixo. O custo de vida para manter uma casa sozinho é brutal. Aluguel, condomínio, luz, água, internet… Tudo dividido por um. Só quem já passou por isso sabe o aperto no final do mês.
E as outras configurações familiares?
Enquanto os lares solitários crescem, os tradicionais encolhem. Os arranjos com casal e filhos, outrora dominantes, agora representam apenas 34,4% do total. E os domicílios com mais de quatro pessoas? Esses caíram para 13,2%. A casa da vovó, com um monte de neto correndo, está mesmo virando uma cena de filme antigo.
E não para por aí. O levantamento ainda mostrou que quase 30% das mulheres que são a pessoa de referência do domicílio vivem sozinhas. Um dado poderoso, que fala sobre emancipação financeira e coragem de encarar o mundo sem muletas.
É uma revolução quieta, acontecendo entre quatro paredes. Uma mudança de comportamento que redefine não só o mercado imobiliário — com a demanda por apartamentos menores crescendo —, mas também a forma como nos relacionamos, consumimos e envelhecemos. O Brasil, definitivamente, está aprendendo a ficar sozinho. E, pelo visto, está gostando.