Alzheimer: 4 especialistas revelam nova era de diagnóstico e tratamento
Nova era no combate ao Alzheimer: diagnóstico precoce muda jogo

Um encontro histórico entre quatro especialistas de ponta da medicina brasileira durante o CTAD 2025 – Clinical Trials on Alzheimer’s Disease, em San Diego, nos Estados Unidos, revelou uma mudança de paradigma no enfrentamento da principal causa de demência no mundo. Endocrinologistas, neurologistas, psiquiatras e geriatras estão reescrevendo coletivamente a narrativa sobre a doença, saindo de uma visão fatalista para uma abordagem integrada e proativa.

O fim do diagnóstico tardio: a revolução dos biomarcadores

Durante décadas, o Alzheimer foi sinônimo de diagnóstico tardio e declínio inevitável. Hoje, a medicina aprendeu que a doença é um processo contínuo e silencioso, que se inicia muitos anos antes dos primeiros esquecimentos. A grande virada está na capacidade de identificá-la nessa fase inicial.

O ano de 2025 consolida uma revolução diagnóstica. Destaque para a aprovação pelo FDA da dosagem da proteína tau fosforilada (p-Tau 217) no sangue, um biomarcador plasmático de alta precisão. Além disso, painéis que combinam marcadores amiloides e genéticos receberam designação de inovação. Pela primeira vez na história, é viável detectar a doença com segurança anos antes dos sintomas graves, abrindo uma janela crucial para intervenções.

Na neurologia, isso se traduz em medicina de precisão. Não dependemos mais apenas da avaliação clínica subjetiva. Testes cognitivos estruturados, biomarcadores no líquor e exames de imagem de alta tecnologia permitem estratificar riscos e tomar decisões terapêuticas individualizadas, com muito mais chance de sucesso para cada paciente.

Um olhar multidisciplinar: além da memória

Os primeiros sinais do Alzheimer nem sempre são falhas de memória. Frequentemente, a psiquiatria é a primeira especialidade a identificar o problema através de mudanças comportamentais sutis: apatia persistente, perda de interesse por atividades, alterações de humor ou personalidade. Muitos pacientes chegam com quadros de ansiedade ou depressão resistentes, cuja origem está, na verdade, na neurodegeneração inicial.

A geriatria traz a perspectiva fundamental do tempo longo. Com o envelhecimento populacional, o rastreio cognitivo se tornou rotina, assim como a atuação sobre fatores de risco modificáveis. O cuidado geriátrico preventivo é a primeira linha de defesa.

E a endocrinologia revela a conexão íntima entre cérebro e metabolismo. Condições como resistência à insulina, diabetes, obesidade e inflamação crônica são terrenos férteis para a progressão do Alzheimer. Intervir nessas questões não é só cuidado cardiovascular; é uma estratégia direta de proteção cerebral. Medicamentos para doenças metabólicas e mudanças rigorosas no estilo de vida mostram-se promissores em influenciar os processos neurodegenerativos.

A nova fronteira terapêutica e a esperança concreta

Após duas décadas de estagnação, a terapia para o Alzheimer entrou em uma nova era. 2023 marcou a liberação do lecanemabe e 2024 do donanemabe, anticorpos monoclonais que atuam contra as placas amiloides. O horizonte é ainda mais promissor: em 2025, estão em andamento 182 ensaios clínicos investigando 138 drogas diferentes.

A soma de diagnóstico preciso, terapias biológicas direcionadas, cuidado psiquiátrico qualificado e prevenção metabólica ativa sustenta uma perspectiva concreta. O objetivo já não é mais uma cura milagrosa instantânea, mas transformar o Alzheimer de uma sentença inapelável em uma condição cada vez mais manejável.

Talvez ainda não seja possível apagar completamente seu rastro, mas já podemos, com conhecimento e ação precoce, tornar sua progressão mais lenta, mais previsível e, sobretudo, mais humana. Quando o tempo deixa de ser um inimigo implacável e se transforma em um aliado para intervenções, tudo muda para pacientes, famílias e para a medicina.