NYT revela: Governo Zelensky sabotou órgãos de controle e ampliou corrupção
Zelensky minou fiscalização e abriu espaço para corrupção

Uma investigação do jornal americano The New York Times, publicada nesta sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, revelou que o governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sabotou sistematicamente conselhos e agências de fiscalização de estatais. A ação teria aberto espaço para o alastramento de casos de corrupção no país, que enfrenta uma guerra contra a Rússia desde fevereiro de 2022.

Conselhos paralisados e aliados em cargos-chave

Com base em documentos e entrevistas com cerca de 20 autoridades ocidentais e ucranianas, o NYT detalhou como, nos últimos quatro anos, a administração Zelensky impediu o funcionamento de conselhos de supervisão. Esses conselhos eram uma demanda direta dos Estados Unidos e da Europa para monitorar para onde a ajuda financeira bilionária estava indo durante o conflito.

O governo teria deixado vagas em aberto e nomeado aliados para posições estratégicas, minando a independência desses órgãos. A reportagem aponta interferência política em três frentes principais: a estatal de energia nuclear Energoatom, a empresa de eletricidade Ukrenergo e a Agência de Aquisições de Defesa da Ucrânia, responsável por fiscalizar contratos de armas.

O caso Energoatom e a omissão dos aliados

A investigação descreve a interferência no conselho da Energoatom como um "estudo de caso" de como líderes ucranianos bloquearam esforços anticorrupção. O governo não só atrasou a formação do conselho como deixou uma vaga em aberto, paralisando o mecanismo. Segundo o jornal, um conselho funcionando plenamente poderia ter evitado uma "corrupção desenfreada", com subornos de até 15% pagos por empreiteiros.

O gabinete anticorrupção ucraniano, que age independentemente, classificou o caso como uma das maiores investigações no setor energético desde o início da guerra. A agência afirmou, em comunicado de novembro, que uma "organização criminosa de alto nível" desviou cerca de US$ 100 milhões por meio de contratos fraudulentos da Energoatom.

O The New York Times revelou ainda que aliados europeus tinham conhecimento dos desvios, mas nada fizeram por receio de que uma ação dura parecesse falta de apoio a Kiev. "Nós nos importamos com a boa governança, mas temos que aceitar esse risco", disse Christian Syse, enviado especial da Noruega, um dos principais doadores.

Pressão na Ukrenergo e centralização na Defesa

O ex-diretor executivo da Ukrenergo, Volodymyr Kudrytskyi, relatou ao NYT que, poucos meses após o início da guerra, começou a receber pressão do ministro da Energia, Herman Halushchenko, para contratar pessoas com pouca experiência para cargos de gestão. Kudrytskyi resistiu, com apoio do conselho.

No entanto, o ministério rejeitou uma lista de candidatos da União Europeia e impôs a nomeação de Roman Pionkowski, um especialista polonês que havia sido reprovado na entrevista por baixa qualificação. Com a invasão russa, a Ukrenergo, sob Kudrytskyi, manteve os serviços funcionando e atraiu US$ 1,7 bilhão em empréstimos de doadores ocidentais no primeiro ano de guerra.

Apesar disso, Kudrytskyi foi demitido após pressão do ministro Halushchenko, em uma decisão que levou dois membros do conselho a renunciarem em protesto, classificando-a como "politicamente motivada".

Padrão semelhante se repetiu na Agência de Aquisições de Defesa. O Ministério da Defesa tentou centralizar o poder, e o governo Zelensky demitiu seus dois representantes no conselho após a renúncia de um membro estrangeiro. O conselho ficou sem quórum e seus poderes foram transferidos para o Ministério da Defesa.

Alerta europeu e riscos persistentes

Atenta aos problemas, a Comissão Europeia encomendou um relatório sobre riscos de corrupção no setor energético ucraniano. Uma cópia obtida pelo NYT alerta para a "persistente interferência política" e destaca o enfraquecimento dos conselhos de supervisão por Kiev como um problema crítico.

Enquanto isso, um polêmico projeto da Energoatom, apoiado por Halushchenko, para comprar reatores nucleares antigos da Bulgária por US$ 600 milhões, foi criticado por organizações anticorrupção como um potencial desperdício em uma das estatais mais corruptas do país. O acordo atualmente está suspenso.

A investigação do The New York Times pinta um quadro preocupante de como mecanismos vitais de controle foram minados durante um período de guerra, levantando questões sobre a governança e o uso dos recursos internacionais destinados à Ucrânia.