O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou com uma ação judicial de grande vulto contra a rede de televisão britânica BBC. O processo, apresentado nesta terça-feira (16) em um tribunal federal de Miami, na Flórida, exige uma indenização colossal de pelo menos 54 bilhões de dólares (aproximadamente 291 bilhões de reais).
As acusações e a defesa da BBC
A ação judicial alega difamação e violação de uma lei estadual da Flórida sobre práticas comerciais enganosas e desleais. Trump, de 79 anos, acusa a emissora de ter distorcido suas palavras de forma maliciosa. "Eles literalmente colocaram palavras na minha boca", declarou o bilionário à imprensa.
O cerne da disputa é uma reportagem do renomado programa "Panorama", exibida pouco antes das eleições presidenciais norte-americanas de 2024. A matéria apresentou trechos editados de um discurso de Trump proferido em 6 de janeiro de 2021, data do ataque ao Capitólio. Segundo os advogados do republicano, a BBC agiu com o "objetivo flagrante de interferir nas eleições" de 2024.
Um porta-voz jurídico de Trump afirmou que a emissora, "outrora respeitada e hoje desacreditada", tem um longo histórico de enganar o público em sua cobertura sobre o ex-presidente, servindo a uma "agenda política de esquerda".
Em resposta, a liderança da BBC se mantém firme. O presidente da corporação, Samir Shah, enviou uma carta de desculpas a Trump, mas não recuou na defesa do conteúdo jornalístico. Em mensagem aos funcionários em novembro, Shah foi categórico: "Não há base legal para uma ação por difamação e estamos determinados a contestá-la". A demissão do diretor-geral, Tim Davie, e da chefe de informação, Deborah Turness, foi citada no processo como insuficiente, pois, segundo Trump, a BBC não demonstrou "verdadeiro remorso" nem fez reformas institucionais profundas.
Crise financeira e contexto político
A ação judicial surge em um momento de extrema turbulência para a BBC. Uma comissão do Parlamento britânico revelou em novembro que a emissora perdeu mais de 1,1 bilhão de libras (cerca de 8 bilhões de reais) em receitas apenas no ano fiscal de 2024-25. A queda é atribuída a fraudes nas taxas de licenciamento e à diminuição da audiência.
Essa taxa, que responde por 65% do financiamento da BBC, custa atualmente 174,50 libras anuais (cerca de 1,2 mil reais) por contribuinte britânico. O valor total do contrato, que rendeu 3,8 bilhões de libras no último ano fiscal, precisa ser renegociado até o final de 2027.
Este não é um caso isolado na estratégia de Trump. Desde seu retorno ao poder, o ex-presidente tem movido ou ameaçado mover ações contra vários grupos de mídia nos EUA, alguns dos quais optaram por acordos financeiros para encerrar os processos. Paralelamente, ele tem trazido para a Casa Branca criadores de conteúdo e influenciadores favoráveis, enquanto intensifica críticas a jornalistas da mídia tradicional.
Consequências e cenário futuro
O processo contra a BBC simboliza um novo capítulo no embate entre Trump e a grande imprensa internacional. A dimensão financeira da ação, somada à já delicada situação econômica da emissora britânica, coloca uma pressão sem precedentes sobre a organização.
Enquanto a BBC se prepara para uma batalha legal determinante para sua reputação e futuro, Trump reforça sua narrativa de vitimização pela mídia. O desfecho deste embate terá repercussões significativas para os limites do jornalismo político e para o cenário da comunicação global, especialmente em um contexto de polarização e disputas eleitorais acirradas.