O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realiza nesta quinta-feira, 4 de dezembro de 2025, um encontro de alto nível em Washington com os mandatários da República Democrática do Congo e de Ruanda. O objetivo central é a assinatura de novos acordos para estabilizar uma região africana historicamente marcada por conflitos violentos.
Diplomacia com olho no Nobel e nos recursos
A reunião tem um duplo propósito na visão da administração Trump. Publicamente, busca colecionar mais uma mediação de sucesso em sua pasta diplomática, um movimento analisado como parte de uma campanha para o Prêmio Nobel da Paz do próximo ano. No entanto, seguindo a lógica transacional que caracteriza sua política externa, Trump também mira os valiosos recursos minerais da região.
Espera-se que o presidente ruandês, Paul Kagame, e o presidente congolês, Félix Tshisekedi, reafirmem compromissos com um pacto de integração econômica selado em novembro e com um acordo de paz mediado pelos EUA em junho, que ainda não saiu do papel. A diplomacia americana conseguiu conter a escalada dos combates, mas não resolveu as questões centrais do conflito.
O conflito no terreno e o papel do M23
O leste da República Democrática do Congo vive uma crise humanitária agravada pelo avanço do grupo rebelde M23, que tomou as duas maiores cidades da região no início deste ano. Um relatório de especialistas da ONU de julho afirma que Ruanda exerce comando e controle sobre os rebeldes, uma acusação que o governo de Kigali nega veementemente.
Em declarações conflitantes na terça-feira, 2 de dezembro, o exército congolês e o M23 acusaram-se mutuamente de violar os cessar-fogo. O porta-voz do governo congolês, Patrick Muyaya, culpou o grupo rebelde pelos combates recentes, afirmando que isso era "prova de que Ruanda não quer a paz". Nenhum representante do M23 deve comparecer ao encontro em Washington.
Interesses econômicos e a disputa com a China
Nos bastidores, o governo Trump discute atrelar aos acordos de paz investimentos ocidentais na mineração da região. A área é riquíssima em tântalo, estanho, tungstênio, ouro, cobalto, cobre e lítio, minerais críticos para a indústria de tecnologia e energia limpa.
Washington empreende um esforço global para garantir seu acesso a esses recursos, atualmente dominados por seu maior rival estratégico: a China. O acordo em discussão prevê que o Congo reprima as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), um grupo opositor ao M23, enquanto Ruanda retiraria suas forças do território vizinho. Desde junho, houve poucos avanços concretos nessas frentes.
O ministro das Relações Exteriores de Ruanda, Olivier Nduhungirehe, expressou esperança de que a reunião em Washington traga melhorias concretas. O acordo será assinado no Instituto da Paz dos Estados Unidos, onde o nome de Trump foi recentemente adicionado a uma placa.
Este ciclo de violência é apenas o mais recente capítulo de um conflito que dura três décadas, com raízes em rivalidades étnicas e nas consequências do genocídio ruandês de 1994. Duas guerras entre 1996 e 2003 na região dos Grandes Lagos Africanos custaram milhões de vidas. O atual surto de violência já matou milhares e deslocou mais de 850 mil pessoas.