Trindade e Tobago autoriza uso de aeroportos por forças dos EUA em meio a tensões com Venezuela
Trindade e Tobago autoriza aeroportos a forças dos EUA

O governo de Trindade e Tobago deu um passo significativo na cooperação militar com os Estados Unidos nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2025. As autoridades locais autorizaram o uso dos aeroportos internacionais Piarco e Arthur NR Robinson para voos militares norte-americanos nas próximas semanas.

Cooperação bilateral ou cenário de tensão?

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do país caribenho, a medida tem como objetivo principal fortalecer a cooperação bilateral no setor de segurança. O chanceler Sean Sobers explicou que as operações aprovadas são de natureza logística, facilitando o reabastecimento e a rotação de pessoal. Ele vinculou a decisão ao compromisso da primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar com a segurança de Trindade e Tobago e de toda a região.

No entanto, o sinal verde ocorre em um momento de elevada tensão geopolítica no Caribe, marcada pelo envio de forças americanas para a região em uma operação que muitos analistas veem como um cerco à Venezuela. A permissão foi concedida apenas uma semana após a Casa Branca divulgar sua Estratégia de Segurança Nacional para 2025, que enfatiza o trabalho com parceiros para controlar a migração e conter o fluxo de drogas.

Contexto de uma escalada militar

Esta não é a primeira movimentação dos EUA envolvendo Trindade e Tobago. Em outubro, o destróier com mísseis guiados USS Gravely foi despachado para o país e participou de exercícios militares conjuntos perto da costa venezuelana. Em novembro, fuzileiros navais americanos instalaram um sistema de radar no aeroporto Arthur NR Robinson, projetado para detectar aeronaves, drones e mísseis.

O governo trinitário-tobagense destacou que esse sistema já rendeu frutos, auxiliando na apreensão de US$ 171 milhões (cerca de R$ 927 milhões) em maconha encontrada em uma embarcação não tripulada no pântano de Caroni.

Do outro lado do conflito, a Venezuela observa com preocupação a crescente presença militar americana. No final de outubro, o ex-presidente Donald Trump revelou ter autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro do território venezuelano. Washington acusa o ditador Nicolás Maduro de liderar o Cartel de los Soles – designado organização terrorista estrangeira em novembro – e oferece uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à sua captura.

Debate sobre legitimidade e dados que contradizem o discurso

A justificativa central dos Estados Unidos para o aumento de sua presença militar é o combate ao narcotráfico. Trump chegou a argumentar que o país já está em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, legitimando os ataques. Autoridades americanas afirmam que ações letais são necessárias porque as táticas tradicionais falharam em conter o fluxo de drogas.

Entretanto, dados das Nações Unidas apresentam um quadro diferente. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil, principal responsável pelas overdoses nos EUA, tem origem no México, e não na Venezuela. O documento também aponta que a cocaína, consumida por cerca de 2% da população americana, vem majoritariamente da Colômbia, Bolívia e Peru.

Além disso, uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada em 14 de dezembro revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas para matar suspeitos de narcotráfico sem devido processo judicial. O apoio é maior entre republicanos (58%), mas 27% deles se opõem à prática. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra.

Enquanto isso, a mobilização militar americana na América Latina segue crescendo. Além do porta-aviões já mencionado, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram despachados para o Caribe, em um claro jogo de pressão com o governo de Nicolás Maduro, que tem gerado alarme entre juristas e legisladores democratas, que veem violações do direito internacional.