O embaixador russo em Berlim, Sergey Nechayev, emitiu um severo alerta à União Europeia, classificando qualquer uso dos ativos soberanos do país congelados no bloco como um ato de "roubo" que trará graves consequências. A declaração ocorre em meio às tentativas de Berlim e Bruxelas de convencer a Bélgica a apoiar um plano para direcionar os rendimentos desses ativos para a Ucrânia.
O plano da UE e a resistência belga
A Comissão Europeia elaborou uma proposta para utilizar os rendimentos gerados pelos cerca de 235 bilhões de euros em ativos russos que foram congelados no território da União Europeia após a invasão da Ucrânia. Desse montante colossal, aproximadamente 210 bilhões de euros estão depositados na Euroclear, uma câmara de compensação internacional com sede na Bélgica.
No entanto, o governo belga tem demonstrado resistência ao plano, temendo as potenciais consequências legais e financeiras para a Euroclear caso a medida seja implementada. A preocupação gira em torno de possíveis ações judiciais contra a instituição, que atua como guardiã desses ativos.
As graves advertências de Moscou
Em comunicado oficial, o diplomata russo Sergey Nechayev foi enfático ao afirmar que a medida em discussão equivale a um confisco ilegal. "Qualquer transação com ativos soberanos da Rússia sem o consentimento do país seria um roubo", declarou Nechayev.
Ele foi além, prevendo um cenário catastrófico para a credibilidade europeia. Segundo o embaixador, o "roubo de fundos estatais russos terá consequências de longo alcance", capazes de destruir a reputação internacional da UE. Nechayev antevê "processos judiciais intermináveis" e um "caminho para a anarquia jurídica" que, em sua avaliação, abalará os alicerces do sistema financeiro global, atingindo em primeiro lugar a própria Europa.
Diplomacia em ação e visões opostas
Neste contexto de tensão, o chanceler alemão, Friedrich Merz, viaja à Bélgica para um encontro com seu homólogo, Bart De Wever. O objetivo da visita é tentar convencer o governo belga sobre os méritos da proposta europeia e superar as objeções legais.
Enquanto a UE busca meios alternativos para financiar o apoio a Kyiv, o Kremlin oferece uma leitura diferente da situação. Na visão do embaixador Nechayev, a intenção de recorrer aos ativos congelados é um sinal de fraqueza, demonstrando que a União Europeia não dispõe dos "recursos consideráveis" necessários para manter um apoio militar prolongado à Ucrânia.
O impasse coloca a Bélgica no centro de uma complexa disputa geopolítica e jurídica, com o governo do país ponderando os riscos de ser o epicentro de uma medida sem precedentes que, segundo Moscou, pode desencadear uma crise de confiança no sistema financeiro ocidental.