Fim de uma era na Bolívia
O centro-direitista Rodrigo Paz assumiu oficialmente a presidência da Bolívia neste sábado, 8 de novembro de 2025, em uma cerimônia histórica que marca o encerramento de um ciclo de 20 anos de governos de esquerda no país. A transição de poder ocorre em meio à pior crise econômica enfrentada pela nação em quatro décadas.
Cerimônia sob chuva e segurança reforçada
No palácio legislativo boliviano, localizado no centro de La Paz, o novo presidente de 58 anos foi recebido com aplausos por deputados e delegações internacionais. Os atos oficiais foram marcados por uma chuva torrencial, enquanto a área do Palácio do Governo e do Parlamento permaneceu sob forte proteção policial.
"Deus, família e pátria: Sim, juro!", declarou Paz durante o juramento presidido por seu vice-presidente, Edmand Lara, um ex-oficial da polícia. O novo mandatário venceu as eleições de outubro representando o Partido Democrata Cristão.
Desafios econômicos imediatos
Rodrigo Paz herda um país em grave crise econômica, caracterizada pela escassez de dólares e combustíveis. O governo anterior de Luis Arce, ex-aliado transformado em desafeto de Evo Morales, esgotou praticamente todas as reservas cambiais para manter uma política de subsídios universais à gasolina e diesel.
A inflação anual até outubro registrou 19%, após atingir um pico de 25% em julho. Atualmente, são comuns as longas filas nos postos de gasolina e para receber alimentos subsidiados, como arroz e óleo, na pior crise que o país de 11,3 milhões de habitantes enfrenta em 40 anos.
Mudanças prometidas pelo novo governo
O presidente recém-empossado prometeu implementar um programa de "capitalismo para todos", que inclui cortar mais da metade dos subsídios aos combustíveis. Sua agenda econômica concentra-se na formalização da economia, eliminação de obstáculos burocráticos e redução de impostos.
Presença internacional e diálogo com o Brasil
Mais de 50 delegações internacionais compareceram à cerimônia de posse na sede do governo boliviano, situada a 3.600 metros acima do nível do mar. Entre os participantes de destaque estavam o vice-chanceler norte-americano Christopher Landau e os presidentes Gabriel Boric (Chile), Javier Milei (Argentina) e Yamandú Orsi (Uruguai).
Durante a campanha eleitoral, Paz demonstrou interesse em dialogar com o governo Lula, apesar de se posicionar contra as bases de Morales, tradicional aliado do presidente brasileiro. "O Brasil é nosso principal parceiro estratégico", afirmou o novo mandatário, comprometendo-se a fortalecer a parceria da Bolívia com o país, mantendo a participação do país andino no Mercosul e nos Brics.
Fim da era Morales
A posse de Rodrigo Paz encerra definitivamente uma era iniciada por Evo Morales em 2006 e continuada por seu sucessor e atual adversário, Luis Arce. Sob a liderança da esquerda e do partido MAS, fundado por Morales, a Bolívia viveu um ciclo que passou da bonança proporcionada pela nacionalização do gás à queda dramática da produção desse recurso, que praticamente secou a principal fonte de divisas do país.
Fora da disputa eleitoral, Evo Morales pregou voto nulo, declarando que ambos os candidatos representavam "um punhado de pessoas na Bolívia" e não o movimento popular ou indígena.