Recontagem de votos em Honduras trava eleição após 2 semanas de protestos
Recontagem eleitoral em Honduras segue travada

Mais de duas semanas após as eleições presidenciais, Honduras permanece mergulhada em uma crise política. A recontagem especial dos votos, que tem o poder de alterar o resultado preliminar do pleito de 30 de novembro, está completamente paralisada. O impasse é alimentado por protestos, acusações de fraude e uma disputa acirrada entre os partidos políticos.

Protestos bloqueiam acesso e atrasam processo decisivo

A revisão manual dos votos, prevista para começar na semana passada, sequer havia iniciado nesta quarta-feira, 17 de dezembro. A principal razão para o atraso são os manifestantes ligados ao partido governista Libertad y Refundación (LIBRE), que bloqueiam o acesso ao prédio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A ação impede que as equipes técnicas responsáveis pela recontagem possam trabalhar.

De acordo com integrantes do órgão eleitoral, cerca de 15% das atas eleitorais – o que representa aproximadamente 2.792 planilhas – apresentam inconsistências e precisam ser verificadas manualmente. Esses documentos reúnem centenas de milhares de votos, um volume mais do que suficiente para mudar o cenário atual da disputa presidencial.

Resultado preliminar e pressão internacional

Com quase 100% das urnas contabilizadas na apuração regular, o candidato da oposição, Nasry Asfura, do Partido Nacional, mantém a liderança. Ele tem uma vantagem superior a 43.000 votos sobre seu principal rival, Salvador Nasralla, do Partido Liberal. Asfura, ex-prefeito de Tegucigalpa, de 67 anos, recebeu apoio público do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Em terceiro lugar na disputa aparece Rixi Moncada, candidata do partido governista LIBRE. Tanto o LIBRE quanto Nasralla defendem uma recontagem total dos votos, alegando irregularidades no processo, embora não tenham apresentado provas concretas de fraude até o momento.

Disputa legal e acusações de golpe

A presidente do CNE, Ana Paola Hall, tem se posicionado de forma firme sobre o assunto. Ela afirma que a legislação eleitoral hondurenha só permite recontagens quando existem "motivos objetivos e específicos". Em um documento enviado aos outros membros do conselho, Hall foi categórica: "Não existe base legal para uma recontagem completa sem evidências claras de irregularidades".

Em declaração pública, a presidente do órgão eleitoral transferiu a responsabilidade pelo atraso. "Os funcionários estão prontos para trabalhar, mas não conseguem acessar o prédio devido aos protestos. O atraso não é responsabilidade do CNE neste momento, mas dos partidos políticos", ressaltou Hall.

Enquanto isso, a tensão nas ruas só aumenta. Nesta quarta-feira à tarde, o partido LIBRE convocou novos protestos em frente ao palácio presidencial. Os manifestantes denunciam o que chamam de "golpe eleitoral" e criticam a suposta interferência do governo Trump, que teria condicionado seu apoio a Honduras à vitória de Asfura.

Os resultados oficiais da eleição presidencial, cujo mandato vai de 2026 a 2030, sucedendo a atual presidente, Xiomara Castro, só serão confirmados após a conclusão da revisão. O CNE tem até 30 de dezembro para declarar o vencedor, mas o relógio corre contra a pacificação do país.