Agricultores bloqueiam Bruxelas contra acordo UE-Mercosul; polícia usa gás
Protesto de agricultores em Bruxelas contra acordo UE-Mercosul

As ruas do centro de Bruxelas, na Bélgica, foram tomadas por tratores e confrontos nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025. Agricultores de vários países da União Europeia bloquearam vias próximas ao Parlamento Europeu em um protesto vigoroso contra o acordo de livre-comércio entre o bloco europeu e o Mercosul.

Confrontos e evacuação no coração da Europa

Os manifestantes, utilizando seus tratores como barricadas, cercaram áreas no entorno da sede do Parlamento Europeu. A tensão escalou rapidamente: pneus foram incendiados, e a polícia local respondeu com o uso de gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar a multidão. Os danos causados pelos protestos foram significativos a ponto de forçar a evacuação parcial do Parlamento Europeu.

A data do protesto não foi por acaso. Enquanto as ruas fervilhavam, líderes dos 27 países-membros da UE se reuniam na capital belga justamente para debater o futuro do acordo comercial. Este tratado, negociado por mais de vinte anos, visa eliminar tarifas entre a União Europeia e os países do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

Resistência política dentro da UE ameaça acordo

A pressão nas ruas de Bruxelas ecoa uma crescente oposição política dentro das instituições europeias. Dois pesos-pesados do bloco, França e Itália, já manifestaram resistência à assinatura imediata do pacto.

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu o adiamento da votação final, originalmente prevista para sexta-feira, 19. Ele pede mais tempo para negociar salvaguardas que protejam o setor agrícola europeu. "Os agricultores já enfrentam desafios enormes. Não podemos sacrificá-los neste acordo", afirmou Macron. O Palácio do Eliseu também teme que o tratado possa beneficiar politicamente a extrema-direita francesa, que critica abertamente seus impactos.

Entre as exigências de Paris estão regras ambientais mais duras para os países do Mercosul, mecanismos para amortecer choques econômicos e uma fiscalização reforçada das importações nos portos europeus.

Do lado italiano, a primeira-ministra Giorgia Meloni foi direta ao declarar que uma assinatura agora "seria prematura". Ela condiciona o apoio de Roma a garantias claras para a proteção dos agricultores italianos.

Corrida contra o tempo e impaciência sul-americana

Apesar da resistência, o acordo tem seus defensores de peso. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, junto com países como Alemanha e Espanha, trabalha para viabilizar a assinatura. Para ser aprovado, o pacto precisa do apoio de pelo menos dois terços dos países da UE, que representem 65% da população total do bloco. Uma aliança entre França e Itália tem potencial para barrar essa maioria.

Von der Leyen, no entanto, mantém a intenção de formalizar o acordo nos próximos dias, possivelmente durante uma viagem ao Brasil no sábado, 19.

No lado sul-americano, a demora gera frustração. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um dos principais entusiastas do tratado, vê sua assinatura como um trunfo diplomático. Contudo, em tom de ultimato, Lula afirmou recentemente que, se a negociação não for concluída até o final de dezembro, ele se recusará a assinar durante o seu mandato. Em reunião ministerial, ele classificou o momento como decisivo e criticou a resistência europeia.

O protesto em Bruxelas deixa claro que, além das complexas negociações entre governos, o acordo UE-Mercosul enfrenta o descontentamento visceral de um setor crucial da economia europeia. O desfecho desta longa novela comercial, com mais de duas décadas, segue incerto e carregado de tensão política e social.