O presidente argentino Javier Milei recebeu nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, na Casa Rosada, o presidente eleito do Chile, José Antonio Kast. O encontro, que começou ao meio-dia, representa um momento decisivo nas relações bilaterais e indica a formação de um novo alinhamento ideológico conservador e liberal na América do Sul.
Uma reunião estratégica com agenda definida
A visita, programada para durar entre uma e uma hora e meia, teve três eixos centrais de discussão: economia, migração e segurança. Do lado argentino, participaram o chefe de Gabinete, Manuel Adorni, o chanceler Pablo Quirno e a secretária-geral da Presidência, Karina Milei. A presença do ministro da Economia, Luis Caputo, não estava confirmada até o anúncio da agenda oficial.
Kast, que venceu a eleição chilena com quase 60% dos votos contra a candidata governista, desembarcou em Buenos Aires acompanhado por uma delegação de peso do empresariado chileno, incluindo executivos dos grupos Luksic e Matte. A agenda do presidente eleito também incluiu um almoço com empresários argentinos, organizado pela Fundação IRSA, e um encontro com o embaixador chileno na capital argentina.
Sintonia antiga e projetos comuns
A proximidade entre Milei e Kast não é novidade. Os dois se conheceram em 2022, durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), ao lado do deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro. Em 2023, ainda como candidato, Milei recebeu apoio explícito de Kast, que o chamou de “um leão que está fazendo história”. Após a vitória argentina, Kast participou da posse em Buenos Aires e de reuniões privadas com dirigentes do partido La Libertad Avanza.
Fontes da Casa Rosada afirmam que Milei considera Kast seu principal aliado regional. O governo argentino enxerga a chegada do chileno ao poder como uma chance única de estruturar uma aliança estratégica baseada em princípios comuns, como a defesa da propriedade privada, uma agenda conservadora nos costumes, políticas migratórias mais duras e um endurecimento na segurança pública.
Antes de viajar, Kast afirmou que a reunião seria uma conversa estratégica sobre a experiência argentina recente. Ele elogiou os esforços de Milei para reduzir a inflação e a pobreza extrema e destacou o combate ao crime organizado como uma área de aprendizado mútuo.
Especulações nos bastidores e o ângulo brasileiro
Nos corredores políticos, a visita também gerou rumores sobre uma possível tentativa de Kast de recrutar o economista argentino José Luis Daza, atual secretário de Política Econômica e aliado próximo de Luis Caputo, para integrar ou assessorar seu futuro governo. O próprio Caputo admitiu recentemente que existe a possibilidade de Daza deixar o governo argentino.
Enquanto isso, do outro lado da fronteira, a vitória de Kast foi recebida com cautela pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. O Palácio do Planalto emitiu uma nota protocolar de congratulações, reiterando o compromisso histórico do Brasil com a democracia e a integração regional, mas sem fazer qualquer menção direta à agenda política do eleito.
A postura reflete a distância ideológica evidente entre Lula e o novo eixo que se forma. Kast mantém uma posição crítica em relação ao presidente brasileiro e, nos últimos anos, fez declarações duras contra governos de esquerda na região, associando-os a um projeto “estatizante”. Em contraste, o chileno cultiva proximidade política e simbólica com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.
Um novo mapa político para o Cone Sul
A convergência entre Milei, Kast e setores do bolsonarismo aponta para a tentativa de construção de um eixo conservador liberal no Cone Sul, em oposição direta aos governos progressistas da região. Embora esse alinhamento não deva se traduzir imediatamente em blocos formais, ele redesenha o clima político sul-americano e tende a criar tensões em espaços tradicionais de coordenação, como o Mercosul e a Unasul.
Com a posse de Kast, marcada para as próximas semanas, a relação entre Argentina e Chile entra em uma fase inédita de proximidade ideológica, algo não visto nos últimos anos. Paralelamente, o Brasil de Lula passa a ocupar uma posição mais isolada nesse novo arranjo político que começa a se desenhar no extremo sul do continente, sinalizando tempos de redefinição de alianças e confronto de projetos na América do Sul.