A defesa da democracia e a resistência pacífica ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela foram os motivos centrais para a concessão do Prêmio Nobel da Paz de 2025 à líder oposicionista María Corina Machado. Neste sábado, 6 de dezembro, manifestantes em dezenas de cidades ao redor do mundo saíram às ruas para celebrar a honraria e pressionar por mudanças no país caribenho.
Marchas globais acendem luzes pela democracia venezuelana
De Madri, na Espanha, a Utrecht, na Holanda, venezuelanos da diáspora e simpatizantes se reuniram em atos públicos. Os organizadores afirmaram que as mobilizações estavam programadas para ocorrer em mais de 80 cidades em diversos países. Em imagens marcantes, participantes acenderam as lanternas de seus celulares, criando um símbolo de esperança e solidariedade.
As manifestações ocorrem às vésperas da cerimônia oficial de entrega do Nobel, marcada para quarta-feira, 10 de dezembro, em Oslo, na Noruega. O Comitê Norueguês do Nobel confirmou à agência de notícias AFP que Machado, de 58 anos, comparecerá pessoalmente ao evento.
Uma líder em risco e uma viagem perigosa para Oslo
A presença de María Corina Machado em Oslo é considerada um ato de grande risco. A líder opositora vive na clandestinidade na Venezuela desde janeiro de 2025, quando foi brevemente detida durante um protesto em Caracas. Desde então, ela não é vista em público.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, declarou que Machado seria considerada "foragida" caso deixasse o país. Detalhes sobre como ela sairá da Venezuela e sobre seu eventual retorno são mantidos em sigilo absoluto por questões de segurança.
"Estamos vivendo tempos em que nossa serenidade, nossa convicção e nossa organização estão sendo testadas", disse Machado em um vídeo publicado nas redes sociais nesta semana. "Agora, todos esses anos de luta e a dignidade do povo venezuelano foram reconhecidos com o Prêmio Nobel da Paz."
Contexto de tensão internacional e crise política
Os atos de apoio acontecem em um momento de forte tensão na região. O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, mantém um grande contingente militar no Caribe, o que o presidente Nicolás Maduro classifica como uma "ameaça direta à soberania" venezuelana.
Analistas veem o prêmio Nobel como um gesto que:
- Deslegitima a autoridade de Maduro, cuja reeleição é considerada fraudulenta por observadores internacionais.
- Aumenta a tensão diplomática com Washington.
- Joga holofotes sobre a crise humanitária e democrática na Venezuela.
María Corina Machado venceu as primárias da oposição e era a candidata natural à Presidência em 2024, mas foi impedida de concorrer por uma decisão judicial. Seu substituto na cédula, o ex-diplomata Edmundo González, reivindicou vitória nas eleições de 28 de julho de 2024, mas o resultado foi declarado favorável a Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral, controlado pelo governo.
O Comitê do Nobel laureou Machado em outubro "por seus esforços pacíficos e persistentes pela restauração da democracia e dos direitos humanos na Venezuela". Ela é fundadora do movimento Súmate, criado há mais de 20 anos para fiscalizar eleições. O prêmio inclui 11 milhões de coroas suecas, equivalentes a aproximadamente 6,2 milhões de reais.
A reação do governo Maduro foi imediata: a embaixada da Venezuela em Oslo foi fechada, e o reconhecimento foi chamado de "ato de provocação política". Enquanto isso, para seus apoiadores, a entrega do Nobel é, acima de tudo, um símbolo de esperança e resistência que ultrapassa as fronteiras da Venezuela.