O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, negociado por 25 anos, enfrenta um novo e decisivo obstáculo. O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou publicamente nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, que não apoiará a assinatura do pacto na sua forma atual, exigindo proteções mais fortes para os agricultores franceses. A declaração, feita durante uma cúpula em Bruxelas, coloca em risco a votação final marcada para sexta-feira, 19, e a viagem da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil no sábado, 20, para formalizar o acordo.
Pressão francesa e o risco de colapso
Em meio a protestos planejados por agricultores na França, Macron foi enfático ao afirmar que o acordo "não pode ser assinado" sem mudanças. Ele prometeu se opor a qualquer tentativa de forçar a aprovação. A posição francesa encontrou eco na Itália, cuja primeira-ministra, Giorgia Meloni, já havia classificado a assinatura como "prematura". Juntos, os dois países defendem o adiamento da votação final no Conselho da União Europeia.
Para ser aprovado, o acordo precisa do aval de uma maioria qualificada: pelo menos 15 países representando 65% da população do bloco. Países como Alemanha e Espanha são favoráveis ao pacto, argumentando que ele é crucial para diversificar parceiros comerciais e reduzir a dependência da China.
Salvaguardas aprovadas não bastam para França e Itália
Em uma tentativa de última hora de destravar o impasse, o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e os Estados-membros chegaram a um acordo preliminar sobre mecanismos de salvaguarda na quarta-feira, 17. O texto prevê a reintrodução de tarifas caso as importações de carne da América Latina desestabilizem o mercado europeu, com gatilhos específicos baseados no volume e no preço.
No entanto, uma cláusula mais controversa, que exigiria dos países do Mercosul o cumprimento integral das normas de produção de alimentos da UE (a chamada "obrigação de reciprocidade"), foi barrada pelas nações pró-acordo. Essa ausência, aparentemente, não foi suficiente para convencer França e Itália, que consideram as proteções insuficientes.
O ultimato de Lula e o futuro das negociações
Do lado sul-americano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu um prazo rígido. Em reunião de gabinete na quarta-feira, Lula afirmou que não assinará o acordo se ele não for finalizado ainda em dezembro de 2025. "Se não fizermos isso agora, o Brasil não fará mais este acordo enquanto eu for presidente", declarou, segundo a agência Reuters.
O presidente brasileiro ainda completou: "Cedemos a tudo o que a diplomacia poderia ceder". A posição firme de Lula, somada à resistência de Macron, cria um cenário de alto risco para o maior acordo comercial já negociado pela UE, que promete criar uma zona de livre comércio com mais de 700 milhões de pessoas e eliminar mais de 90% das tarifas.
O impasse coloca em jogo não apenas relações comerciais bilionárias, mas também a estratégia geopolítica da União Europeia. O atraso solicitado por França e Itália pode, de fato, ser fatal para um projeto que já dura um quarto de século, dependendo agora de uma solução de última hora que satisfaça tanto os agricultores europeus quanto a pressão por conclusão do lado do Mercosul.