O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, do ultimato que havia dado à União Europeia para a aprovação do acordo comercial com o Mercosul. A mudança de postura ocorreu após um telefonema não agendado com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.
O pedido de "paciência" de Meloni e a pressão dos agricultores
Durante uma coletiva de imprensa em Brasília, Lula revelou os detalhes da conversa. Segundo ele, a líder italiana solicitou um prazo adicional. "Ela me pediu paciência de no máximo um mês", afirmou o presidente, acrescentando que Meloni garantiu que a Itália estaria "junto com o acordo" após esse período.
Lula confessou ter ficado surpreso ao descobrir que a Itália também resistia à aprovação imediata do tratado. A hesitação romana, explicou, deve-se a pressões do setor agrícola local, que exige da UE garantias de reciprocidade nas regras trabalhistas e fitossanitárias adotadas pelos países do Mercosul.
"Na conversa com Meloni, ela ponderou para mim que não é contra o acordo, que ela está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo", relatou o mandatário brasileiro.
Do "agora ou nunca" à espera por um consenso
A posição atual contrasta com a firmeza demonstrada na véspera. Na quarta-feira, 17 de dezembro, Lula havia estabelecido um prazo rígido, condicionando a assinatura do acordo à sua aprovação pela UE antes da cúpula de líderes do Mercosul em Foz do Iguaçu, marcada para 20 de dezembro. Na ocasião, usou a expressão "agora ou nunca".
Diante do novo cenário, o presidente se mostrou mais flexível. "Eu disse para ela [Meloni] que vou colocar na reunião do Mercosul o que ela falou e propor aos companheiros decidir o que eles querem fazer. Se não for possível assinar agora, não posso fazer nada. Mas vamos aguardar amanhã, a esperança é a última que morre", declarou.
Importância política e recado à França
Lula ressaltou o valor estratégico da parceria, descrevendo-a como "mais favorável à União Europeia" e como uma resposta crucial em defesa do multilateralismo. "É uma resposta de sobrevivência do multilateralismo àqueles que querem construir o unilateralismo", avaliou.
O presidente também dirigiu um comentário à França, outro país que tem levantado objeções ao pacto. Lula minimizou os temores franceses, argumentando que o país "não tem muito a perder com a agricultura brasileira", uma vez que as produções de ambos são complementares e não diretamente concorrentes em vários segmentos.
O desfecho da negociação permanece incerto enquanto os líderes da UE se reúnem em Bruxelas. A aprovação final do bloco europeu depende de uma maioria qualificada de 15 dos 27 Estados-membros, que representem pelo menos 65% da população europeia. O apoio da Itália é considerado um dos elementos-chave para se atingir esse quórum.