Lula oferece Brasil como mediador na crise entre Trump e Maduro
Lula oferece mediação entre EUA e Venezuela

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a oferecer o Brasil como mediador no conflito diplomático e militar entre os Estados Unidos e a Venezuela. Em declarações a jornalistas no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, o mandatário brasileiro afirmou que já manteve contatos com ambos os lados e está disposto a facilitar o diálogo para evitar um confronto armado na América Latina.

Crítica à política do inimigo e chamado ao diálogo

Lula fez uma crítica velada aos protagonistas da crise, sugerindo que a tensão pode ser instrumentalizada. “Tem gente que precisa de um inimigo para fazer política. Aqui no Brasil já teve muita gente assim”, afirmou. O presidente contrastou essa postura com a sua própria, dizendo buscar soluções por meio da palavra e da persuasão. Ele questionou a real dimensão do conflito, lembrando que, durante as tensões entre Hugo Chávez e George W. Bush nos anos 2000, o comércio de petróleo entre os países nunca foi interrompido.

“Aquela briga não era verdadeira. Se fosse, os Estados Unidos interromperiam a importação de petróleo venezuelana, ou Chávez trancaria a exportação. Mas nenhum dos dois faz nada”, ponderou Lula, traçando um paralelo com a situação atual. “É a mesma coisa com o presidente Trump e o Maduro. É importante resolver essas pendengas todas numa mesa de negociação. É só ter vontade.”

Brasil se coloca como ponte e exige clareza de objetivos

O petista revelou que conversou por telefone com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na semana passada, e em seguida com o mandatário americano, Donald Trump. A ambos, reafirmou a disposição brasileira em mediar. Lula destacou que pode precisar ligar para a Casa Branca novamente antes do Natal para discutir o assunto.

No entanto, Lula ressaltou que a mediação só será possível se houver transparência sobre os reais objetivos de cada parte. “Não pode ser apenas a questão de derrubar o Maduro. Quais são os interesses outros que a gente ainda não sabe?”, questionou. Ele listou possíveis motivações não declaradas, como o petróleo, os minerais críticos ou as terras raras da Venezuela, e concluiu: “O dado concreto é que ninguém coloca na mesa o que quer.”

O presidente brasileiro deixou claro o interesse nacional na pacificação: “Nós temos muitos quilômetros de fronteira com a Venezuela e tem muita responsabilidade aqui na América do Sul. Nós não queremos uma guerra aqui no nosso continente.”

Cenário de tensão crescente no Caribe

A oferta de mediação ocorre em um momento de escalada significativa. Na terça-feira, 16 de dezembro, Donald Trump decretou o bloqueio total a petroleiros venezuelanos, declarou o país caribenho como “cercado” e designou o regime chavista como uma “organização terrorista estrangeira”. Em resposta, Nicolás Maduro ordenou que a Marinha venezuelana passasse a escoltar seus navios petroleiros fora do porto.

O contexto é marcado por:

  • Aumento da presença militar americana: O maior porta-aviões do mundo, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram deslocados para a região do Caribe.
  • Operações secretas: No final de outubro, Trump revelou ter autorizado a CIA a conduzir operações dentro da Venezuela, alimentando especulações sobre um plano para derrubar Maduro.
  • Ataques no mar: Intensificaram-se os ataques a barcos vinculados pelo governo americano a organizações narcoterroristas, com pelo menos 95 tripulantes mortos, ações criticadas por juristas e legisladores democratas como violações do direito internacional.
  • Acusações e recompensas: Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel dos Sóis e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à sua captura. O presidente colombiano, Gustavo Petro, também foi publicamente chamado por Trump de “líder do tráfico de drogas”.

Diante deste cenário beligerante, a iniciativa diplomática de Lula busca reposicionar o Brasil como um ator pacificador e estável na região, evocando sua experiência passada e alertando para os riscos de um conflito aberto às portas da Amazônia.