Lula alerta: intervenção dos EUA na Venezuela seria catástrofe humanitária
Lula: Intervenção na Venezuela seria catástrofe humanitária

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta grave durante a reunião do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu neste sábado, 20 de dezembro de 2025. Ele classificou uma possível intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela como uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para a ordem internacional.

Cenário de tensão e bloqueio naval

O discurso do mandatário brasileiro ocorre em um momento de extrema tensão na região. Tropas norte-americanas realizam um cerco naval no Mar do Caribe, na fronteira com a Venezuela, justificando a ação como parte do combate ao narcotráfico. No entanto, o bloqueio tem impedido a navegação de navios petroleiros venezuelanos, asfixiando financeiramente o país, cuja economia depende fortemente da exportação de petróleo.

Desde setembro, as forças militares dos EUA realizaram aproximadamente 25 ataques a embarcações na área, resultando na morte de pelo menos 95 pessoas. A retórica do presidente norte-americano, Donald Trump, tem sido agressiva. Ele afirmou que a Venezuela está "completamente cercada pela maior armada já reunida na história da América do Sul" e que o país só devolverá a paz quando restituir "todo o petróleo, terras e outros bens" aos Estados Unidos.

Diplomacia brasileira em ação

Diante da escalada, Lula assumiu um papel de mediador. Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto na última quinta-feira (18), ele revelou ter mantido conversas telefônicas separadas com Nicolás Maduro e Donald Trump. Seu objetivo é buscar uma solução diplomática que evite um conflito armado.

"Falei para o presidente Maduro que se ele quisesse que o Brasil ajudasse com alguma coisa ele tinha que dizer o que ele gostaria que a gente fizesse. E disse ao Trump: 'Se você achar que o Brasil pode contribuir, nós teremos todo interesse de conversar com a Venezuela, de conversar com vocês, conversar com outros países para que a gente evite um confronto armado aqui na América Latina'", declarou Lula.

O presidente brasileiro destacou o interesse nacional na estabilidade, lembrando os muitos quilômetros de fronteira que o Brasil compartilha com a Venezuela. Ele também instruiu o chanceler Mauro Vieira a não se ausentar do país nas próximas semanas, caso a situação se agrave, e prometeu uma nova ligação para Trump antes do Natal.

Questionamentos sobre os reais interesses

Lula expressou ceticismo sobre as motivações por trás da ameaça norte-americana. Para ele, a justificativa do combate ao narcotráfico pode não ser a única razão. "Era possível negociar sem guerra. Então, eu fico sempre preocupado com o que está por detrás. Porque não pode ser apenas a questão de derrubar o Maduro. Quais são os interesses outros que a gente tem e ainda não [se] sabe?", questionou.

Em seu pronunciamento no Mercosul, Lula contextualizou o momento como o mais perigoso desde a Guerra das Malvinas, há mais de quatro décadas. Ele enfatizou que o continente sul-americano está novamente assombrado pela presença militar de uma potência de fora da região e que os limites do direito internacional estão sendo testados. A intervenção armada, na visão do presidente, traria consequências humanitárias devastadoras e criaria um precedente extremamente perigoso para a geopolítica global.