O ambicioso acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul enfrenta mais um obstáculo significativo. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, declarou nesta quarta-feira, 17 de dezembro de 2025, que seria "prematuro" para o bloco europeu assinar o pacto neste momento. A afirmação coloca em risco a ofensiva diplomática que buscava concluir um processo de negociação que já se estende por 25 anos.
Pressão diplomática e exigências de reciprocidade
A declaração de Meloni foi feita em discurso ao Parlamento italiano, na véspera de uma cúpula da UE. Ela surge após conversas diretas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chanceler alemão, Friedrich Merz, que tentavam convencer Roma a apoiar o acordo. A líder italiana argumentou que o texto precisa de garantias adequadas de reciprocidade para o setor agrícola europeu antes de ser assinado.
Embora tenha expressado confiança de que as condições poderão ser atendidas, Meloni condicionou isso a "algum momento no início do próximo ano". Este posicionamento adia os planos imediatos, já que Von der Leyen tinha agenda para vir ao Brasil ainda nesta semana para a assinatura final do acordo, que foi acertado em princípio no final de 2024.
O peso do veto italiano no tabuleiro europeu
A oposição italiana é crucial no intrincado processo de aprovação da UE. O Conselho Europeu precisa autorizar a Comissão a firmar acordos comerciais, exigindo o aval de pelo menos 15 Estados-membros que representem, no mínimo, 65% da população total do bloco. Com seus 59 milhões de habitantes, a Itália é o terceiro país mais populoso da UE.
Se Roma se juntar à França e à Polônia, que já manifestam oposição mais aberta, o trio reuniria 36% de todos os habitantes da União Europeia, um percentual suficiente para bloquear qualquer pacto. O temor central dessas nações é a invasão de seus mercados por commodities agrícolas mais baratas do Mercosul, especialmente carnes, prejudicando os produtores locais. França e Polônia estão entre os maiores exportadores de carnes da Europa.
Janela de oportunidade pode se fechar
Enquanto países como Espanha e Alemanha defendem o acordo como vital para reduzir a dependência comercial da China e mitigar problemas com tarifas dos Estados Unidos, a demora gera impaciência do lado sul-americano. Em entrevista à Reuters, o eurodeputado Bernd Lange, presidente da comissão de comércio do Parlamento Europeu, alertou sobre a urgência.
"Os países do Mercosul estão perdendo a paciência", afirmou Lange. "Se não for possível assinar agora, a janela de oportunidade se fechará, e eles voltarão sua atenção para países de que não gostamos". O parlamentar foi taxativo ao avaliar o impasse italiano: "Se a Itália não estiver de acordo, acabou".
O acordo UE-Mercosul, se ratificado, será o maior pacto comercial já firmado pela União Europeia, envolvendo um bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e, mais recentemente, Bolívia. Após um quarto de século de idas e vindas nas negociações, a decisão da Itália impõe mais um capítulo de incerteza a uma das principais agendas econômicas globais.