O governo israelense liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou, nesta segunda-feira, 22 de dezembro de 2025, uma medida polêmica: o fechamento da Army Radio, uma das emissoras de rádio mais tradicionais e influentes de Israel. A decisão, que prevê o encerramento total das atividades até março de 2026, foi classificada por críticos como um novo golpe contra a democracia e a liberdade de imprensa no país.
Justificativa oficial e reação das Forças Armadas
A proposta partiu do ministro da Defesa, Israel Katz, e foi endossada pelo gabinete ministerial. O argumento central do governo é a necessidade de preservar o caráter apartidário das Forças Armadas. A emissora, embora vinculada ao Exército israelense, mantinha uma programação jornalística voltada para o público civil, consolidando-se como uma fonte de informação independente ao longo de décadas.
Em suas declarações, Katz afirmou que a rádio se afastou de sua missão original, que era a comunicação interna com os soldados. Ele acusou a programação de dar espaço a opiniões que, em sua avaliação, "atacam o Exército israelense e seus próprios militares". Para o ministro, uma emissora operada pelas Forças Armadas com alcance nacional não se adequa aos padrões de uma democracia moderna.
Polêmica declaração de Netanyahu
Durante a reunião do gabinete, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reforçou o posicionamento com uma comparação que gerou controvérsia. "Acho que uma rádio operada pelo Exército que transmite para civis existe na Coreia do Norte e talvez em poucos outros países — e certamente não queremos estar nessa lista", declarou Netanyahu.
Fundada nos primeiros anos do Estado de Israel, a Army Radio se tornou uma das principais fontes de informação da nação. Ela era uma das duas únicas emissoras públicas financiadas pelo Estado, ao lado da rede KAN, que engloba canais de televisão, rádios e uma plataforma digital. Ambas possuíam, formalmente, independência editorial garantida.
Críticas e contexto político preocupante
O anúncio provocou reação imediata de organizações da sociedade civil e entidades de imprensa. Anat Saragusti, responsável pela área de liberdade de imprensa do Sindicato dos Jornalistas de Israel, afirmou que a iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla do governo para silenciar vozes críticas. "Eles querem uma mídia obediente. Não querem uma mídia crítica", declarou em uma conferência realizada em Tel Aviv.
O Israel Democracy Institute (IDI), um centro de estudos independente, emitiu um alerta grave. A instituição avalia que o fechamento da Army Radio representaria, na prática, a eliminação de metade da cobertura jornalística pública e independente do país. O IDI defendeu que uma decisão de tal magnitude deveria ser submetida ao Parlamento para um debate amplo e democrático.
A medida se insere em um contexto mais amplo de iniciativas da coalizão de direita liderada por Netanyahu. Este contexto inclui:
- Projetos para ampliar os poderes emergenciais do governo na restrição a veículos de comunicação considerados ameaças à segurança nacional.
- Uma reforma estrutural do mercado de mídia.
- A retomada de projetos controversos que haviam sido suspensos durante os dois anos de conflito, conforme Israel se aproxima de um novo ciclo eleitoral.
Vale lembrar que legislação similar já foi utilizada para banir a atuação da emissora pan-árabe Al Jazeera em Israel durante a guerra em Gaza.
O cenário político atual é ainda mais complexo devido à tentativa de Netanyahu de obter um perdão judicial inédito. O primeiro-ministro responde a processos por corrupção, acusações que ele nega veementemente. Analistas apontam que o fechamento da rádio histórica pode ser mais um capítulo em um embate crescente entre o governo e instituições democráticas, levantando sérias questões sobre o futuro da liberdade de expressão em Israel.