Enquanto Washington recua nas políticas ambientais, uma força-tarefa subnacional dos Estados Unidos se prepara para marcar presença na COP30 em Belém. Mais de cem autoridades locais, incluindo governadores, prefeitos e altos funcionários, formarão uma delegação paralela para demonstrar que parte significativa do país mantém seu compromisso com o combate às mudanças climáticas.
Quem compõe a delegação alternativa
A missão é organizada por três redes de ação climática dos EUA: America Is All In, Climate Mayors e U.S. Climate Alliance. A delegação será liderada por figuras de peso como o governador de Wisconsin, Tony Evers; a governadora do Novo México, Michelle Lujan Grisham; a ex-conselheira climática da Casa Branca Gina McCarthy; e a prefeita de Phoenix, Kate Gallego.
Espera-se também a participação do governador da Califórnia, Gavin Newsom, conhecido por sua oposição às políticas ambientais de Donald Trump. A presença massiva tem um objetivo claro: convencer a comunidade internacional de que, apesar das mudanças em nível federal, muitos estados e cidades americanas continuam firmes no Acordo de Paris.
O vácuo de poder climático
O grupo chega ao Brasil com um discurso bem definido: os avanços domésticos em redução de emissões e geração de empregos em energia limpa estão ocorrendo graças a políticas locais, não federais. "Os estados sempre foram laboratórios das soluções climáticas mais inovadoras", afirmou o governador Tony Evers ao anunciar a delegação.
Gina McCarthy foi ainda mais direta: quando o governo federal "falha em agir no melhor interesse do país", a coalizão America Is All In assume a liderança. A retórica expõe o crescente desacordo entre autoridades estaduais e a guinada federal na política climática norte-americana.
Agenda técnica e pressão diplomática
Além dos líderes eleitos, a delegação contará com três importantes arquitetos da política climática dos EUA: Todd Stern, Trigg Talley e Genevieve Maricle, que oferecerão suporte técnico nas negociações.
A movimentação ocorre poucos dias após integrantes das redes se reunirem com André Corrêa do Lago, presidente da COP30, e Ana Toni, diretora executiva do evento. No encontro, as autoridades americanas reforçaram seu engajamento contínuo na governança climática global.
A U.S. Climate Alliance, formada em 2017 em reação ao recuo federal, reúne hoje 24 governadores que representam 60% da economia americana e mais da metade da população do país. Dados da coalizão mostram que, já em 2023, o grupo havia reduzido emissões em 24% em relação a 2005, enquanto crescia economicamente.
Para o Brasil, anfitrião da COP30, esta delegação reforça um alinhamento histórico. Governadores e prefeitos dos EUA têm sido interlocutores importantes para cooperação econômica e ambiental, especialmente em temas como descarbonização urbana e transição energética.