EUA bloqueiam petroleiros da Venezuela: tensão geopolítica e petróleo
EUA anunciam bloqueio total a petroleiros da Venezuela

O governo dos Estados Unidos anunciou, nesta terça-feira (16), um bloqueio total a petroleiros ligados a alvos de sanções da Venezuela. A ação marca um novo capítulo na escalada de tensões entre os dois países, que vem se intensificando nas últimas semanas. Publicamente, a Casa Branca justifica a medida como parte de uma estratégia para conter o narcotráfico e atividades ilícitas. Analistas, porém, enxergam motivações mais profundas, relacionadas ao controle sobre as vastas reservas petrolíferas venezuelanas.

O petróleo no centro da disputa geopolítica

A Venezuela possui a maior reserva comprovada de petróleo do planeta, com aproximadamente 303 bilhões de barris, segundo dados da Energy Information Administration (EIA) dos EUA. Esse volume coloca o país à frente de gigantes como Arábia Saudita e Irã. No entanto, grande parte desse petróleo é do tipo extra-pesado, exigindo tecnologia avançada e grandes investimentos para sua extração.

Na prática, o potencial colossal segue subaproveitado. A combinação de infraestrutura precária e sanções internacionais, lideradas pelos Estados Unidos, limitou drasticamente as operações e o acesso a capital. Relatórios da OPEP indicam que a produção venezuelana em 2025 ficou em torno de 1 milhão de barris por dia, um patamar modesto se comparado aos mais de 2,5 milhões de barris diários de anos anteriores.

Impacto econômico e realinhamento de mercados

O petróleo continua sendo a espinha dorsal da economia venezuelana. Em 2024, a estatal PDVSA faturou cerca de US$ 17,5 bilhões com exportações de hidrocarbonetos, um recorde para o país. Desse total, US$ 10,41 bilhões foram pagos ao tesouro nacional em impostos e royalties. Estima-se que as vendas externas de petróleo corresponderam a cerca de 58% da renda estatal da PDVSA no período.

A dependência é histórica e absoluta: o petróleo responde por metade das exportações do país, sendo a outra metade basicamente de refinados pesados. Em 2013, esse índice chegou a 96,5%. Essa concentração gera uma vulnerabilidade estrutural, onde qualquer queda no preço ou no volume de produção impacta imediatamente as contas nacionais.

As sanções também provocaram um realinhamento forçado no mercado. Antes das restrições ampliadas em 2019, os Estados Unidos eram os principais compradores do petróleo bruto venezuelano. Após as medidas, a Venezuela passou a direcionar grande parte de suas exportações para a China, por meio de acordos de petróleo em troca de empréstimos. Essa mudança aprofundou a relação energética entre Caracas e Pequim, transformando o petróleo em um eixo central da disputa geopolítica na região.

Interesses estratégicos e consequências

Especialistas apontam que o interesse de Washington vai além do discurso oficial de combate ao narcotráfico. O petróleo venezuelano é considerado estrategicamente relevante porque é compatível com as refinarias norte-americanas, especialmente as localizadas na Costa do Golfo. O acesso a essas reservas é visto como uma prioridade estratégica, com potenciais impactos nos preços dos combustíveis no mercado interno dos EUA.

As perdas para a Venezuela, no entanto, já são quantificáveis. Análises de institutos de pesquisa internacionais estimam que as sanções lideradas pelos EUA causaram perdas de receitas petrolíferas de cerca de US$ 226 bilhões entre 2017 e 2024. Esse valor supera o tamanho do PIB venezuelano em anos recentes, evidenciando o peso devastador das medidas.

Apesar do cenário desafiador, dados oficiais mostram que a economia venezuelana cresceu cerca de 7,71% no primeiro semestre de 2025, impulsionada em grande parte pelo setor de hidrocarbonetos, que teve crescimento de quase 15% no período. Este dado, porém, não mascara a profunda vulnerabilidade criada pela dependência quase total de um único recurso, agora ainda mais pressionado pelo cerco internacional.