Ataque com drone danifica cúpula de Chernobyl e compromete segurança nuclear
Drone danifica cúpula de Chernobyl; segurança comprometida

A cúpula de proteção da usina nuclear de Chernobyl, construída para isolar os resíduos radioativos do desastre de 1986, não está mais cumprindo sua principal função de segurança. A conclusão é da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que divulgou um relatório na sexta-feira, 5 de julho, após uma inspeção de rotina.

Inspeção confirma danos críticos

A missão de inspeção da AIEA ocorreu na semana passada e focou na estrutura de aço conhecida como New Safe Confinement (NSC), ou Novo Confinamento Seguro. Esta cúpula gigante, finalizada em 2019 e erguida sobre o antigo "sarcófago" de concreto soviético, foi projetada para durar um século e garantir a contenção dos materiais radioativos.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou em comunicado que os inspetores "confirmaram que a estrutura perdeu suas funções primárias de segurança, incluindo a capacidade de confinamento". A boa notícia, segundo ele, é que não foram identificados danos permanentes nas estruturas de sustentação de carga nem nos sistemas de monitoramento.

O ataque de fevereiro e suas consequências

Os danos à cúpula ocorreram em 14 de fevereiro de 2025, quando um drone carregado com explosivos atingiu a usina. O impacto causou um incêndio que danificou o revestimento de proteção ao redor do reator número Quatro, o mesmo destruído no acidente catastrófico de 1986.

As autoridades ucranianas atribuíram o ataque à Rússia, acusação que foi negada por Moscou. Na ocasião, os níveis de radiação no local se mantiveram normais e estáveis, sem relatos de vazamento. No entanto, o dano estrutural mostrou-se mais sério do que o inicialmente avaliado.

Grossi destacou que reparos iniciais já foram realizados, mas alertou: "uma restauração abrangente continua sendo essencial para evitar uma maior degradação e garantir a segurança nuclear a longo prazo".

Um legado de risco e cooperação internacional

A história de Chernobyl é marcada por tragédia e esforços monumentais de contenção. Após a explosão de 1986, que espalhou radiação por toda a Europa, os soviéticos construíram um sarcófago de concreto com vida útil estimada em apenas 30 anos.

O NSC, a cúpula danificada, foi um projeto de cooperação global. Sua construção, entre 2010 e 2019, contou com a contribuição de 45 países doadores, que arrecadaram mais de 1,5 bilhão de euros. Cerca de 10 mil profissionais de 40 nações participaram da obra, considerada um marco da engenharia de segurança nuclear.

A usina, que teve seu último reator desligado em 2000, também foi palco de conflito recente. As forças russas ocuparam Chernobyl e seus arredores por mais de um mês no início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

A inspeção da AIEA em Chernobyl foi realizada paralelamente a um levantamento sobre os danos causados a subestações de energia elétrica em toda a Ucrânia pelo conflito, que se aproxima de quatro anos de duração. O episódio do drone evidencia como a guerra continua a representar uma ameaça direta à infraestrutura crítica e à segurança ambiental na região.