Europa cria comissão para indenizar Ucrânia por danos bilionários da guerra
Comissão europeia busca reparações bilionárias para Ucrânia

A Europa deu um passo histórico nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, com o lançamento oficial da Comissão Internacional de Reparações para a Ucrânia. O objetivo central do organismo é assegurar que Kiev seja compensada financeiramente pelos prejuízos bilionários acumulados em quase quatro anos de conflito armado com a Rússia.

Uma reunião de peso em Haia

O evento de criação ocorreu em Haia, na Holanda, e reuniu dezenas de líderes europeus. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participou pessoalmente da cerimônia e aproveitou a ocasião para fazer um discurso contundente. Ele afirmou que uma versão do plano de paz elaborado pelos Estados Unidos será enviada ao governo russo "em dias".

"Todo crime de guerra russo deve ter consequências para aqueles que o cometeram", declarou Zelensky pouco antes da assinatura do tratado. "É exatamente aí que começa o verdadeiro caminho para a paz." O líder ucraniano foi além, argumentando que não basta forçar a Rússia a um acordo ou fazê-la parar de matar. "Precisamos fazer com que a Rússia aceite que existem regras no mundo", acrescentou.

O desafio das reparações bilionárias

O tratado foi rubricado por 35 países e tem a missão de avaliar e decidir sobre as reivindicações de reparações, incluindo a definição de quais valores devem ser pagos. No entanto, especialistas alertam que o processo não será rápido ou simples.

As discussões iniciais giram em torno da possibilidade de utilizar ativos russos congelados pela União Europeia – uma medida considerada uma linha vermelha pelo Kremlin, que a classifica como ilegal – e complementar esse montante com doações dos países-membros do bloco.

O ministro das Relações Exteriores holandês, David van Weel, deixou claro o propósito da comissão: trabalhar para "ter reivindicações validadas que, em última instância, serão pagas pela Rússia". Ele foi enfático ao reiterar: "O pagamento terá que ser feito pela Rússia; esta comissão não oferece nenhuma garantia de indenização".

A dimensão do desafio é colossal. O Banco Mundial estima que o custo da reconstrução ucraniana chegue a US$ 524 bilhões, o equivalente a mais de R$ 2,8 trilhões.

Vítimas e um cadastro de danos

A nova comissão herdará a responsabilidade sobre o Cadastro de Danos, criado há dois anos. Esse registro já recebeu mais de 86 mil pedidos de indenização apresentados por pessoas físicas, empresas e órgãos públicos ucranianos.

Contudo, indenizar certos grupos de vítimas promete ser particularmente complexo. É o caso das pessoas que sofreram abuso sexual ou das famílias cujos filhos foram deportados ilegalmente para território russo. A complexidade aumenta com o plano de paz proposto por Donald Trump, que prevê anistia para indivíduos que cometeram atrocidades durante o conflito, iniciado em fevereiro de 2022.

O andamento das negociações de paz

Em paralelo às discussões sobre reparações, avançam as tratativas para um acordo de paz. Após dois dias de conversas entre autoridades ucranianas e americanas em Berlim, Washington declarou que "90% das questões difíceis" entre Kiev e Moscou haviam sido resolvidas.

Apesar do otimismo americano, o líder russo, Vladimir Putin, não deu nenhum sinal de que está disposto a fazer concessões. Um dos pontos que permaneciam em aberto eram as garantias de segurança que seriam dadas à Ucrânia após o fim da guerra, para impedir uma nova invasão no futuro.

Nesta terça-feira, Zelensky revelou que o Congresso dos Estados Unidos colocará o pacote de propostas em votação. Um conjunto final de documentos estaria sendo preparado "hoje ou amanhã". A aprovação do Legislativo americano é crucial, pois tornaria as garantias "juridicamente vinculativas", ou seja, com força de lei, onde o descumprimento acarretaria consequências legais.

"Estamos contando com cinco documentos. Alguns deles dizem respeito a garantias de segurança: juridicamente vinculativas, ou seja, votadas e aprovadas pelo Congresso dos Estados Unidos", explicou Zelensky a jornalistas. Ele afirmou que essas garantias "espelhariam o artigo 5" da Otan, que obriga todos os membros a defenderem um aliado em caso de ataque.

O cenário, portanto, combina a pressão por justiça e reparação financeira, por meio da nova comissão, com um frágil e complexo processo diplomático que tenta desenhar os contornos de uma paz duradoura, enquanto o conflito ainda deixa suas marcas profundas na Ucrânia.