O cenário geopolítico no Caribe atingiu um novo patamar de tensão nesta semana, com a Venezuela, apoiada por potências como Rússia e China, acusando os Estados Unidos de atos de "pirataria internacional". O epicentro do conflito são as ações navais americanas que interceptaram petroleiros venezuelanos, gerando uma crise diplomática em nível global.
Acusações de Maduro e a Resposta Internacional
Em pronunciamento transmitido ao vivo pela TV estatal na sexta-feira (26), o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi enfático ao afirmar que os Estados Unidos usam acusações contra sua pessoa como pretexto para se apossar das riquezas naturais do país. Maduro é alvo de uma recompensa de US$ 50 milhões oferecida pelo governo americano, que o acusa de liderar o Cartel de los Soles, um grupo ligado ao narcotráfico.
"Não é Maduro, é o petróleo que querem. Não é Maduro, é o ouro, as terras raras; é a nossa riqueza natural", declarou o mandatário, comparando a retórica americana a justificativas usadas em outros conflitos internacionais.
As declarações ocorreram após uma sessão do Conselho de Segurança da ONU na terça-feira (23), onde o embaixador venezuelano, Samuel Moncada, denunciou que seu país sofre a "maior extorsão" de sua história por parte dos EUA. O governo de Caracas anunciou que apresentará uma denúncia formal à ONU após a segunda interceptação de um navio petroleiro no Caribe, no último sábado (20).
Rússia e China Condenam Ações Americanas
Na reunião do Conselho de Segurança, as potências aliadas da Venezuela reforçaram suas críticas a Washington. O representante chinês, Sun Lei, declarou que a China se opõe a atos de unilateralismo e intimidação, apoiando os países na defesa de sua soberania. A apreensão de navios foi classificada por Pequim como uma grave violação do direito internacional.
Por sua vez, a Rússia descreveu a pressão exercida pelo governo Trump como um "comportamento de caubói" e uma "agressão flagrante". O embaixador russo, Vassily Nebenzia, alertou que as tensões na Venezuela podem ter "consequências imprevisíveis para o Ocidente" e responsabilizou Washington pelas consequências catastróficas de suas ações.
Lei Venezuelana e a Troca de Farpas entre Líderes
Em resposta direta às medidas americanas, a Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pelo partido de Maduro, aprovou por unanimidade uma nova lei na terça-feira (23). A legislação prevê penas de prisão de até 20 anos para quem promover ou financiar atos considerados pirataria ou bloqueios contra o país.
Enquanto isso, a retórica entre os presidentes Donald Trump e Nicolás Maduro se intensificou. Trump sugeriu que a coisa mais inteligente que Maduro poderia fazer seria renunciar. Já o líder venezuelano rebateu, questionando por que 70% dos discursos de Trump seriam sobre a Venezuela e não sobre os problemas internos dos Estados Unidos.
A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, reforçou a posição americana, afirmando em entrevista à Fox News que Maduro "tem que sair" do poder e que a interceptação de navios manda uma mensagem clara ao mundo sobre a intolerância com suas atividades ilegais.
O governo Trump, no entanto, mantém oficialmente que o foco de sua ofensiva militar no Caribe, iniciada em agosto, é o combate ao narcotráfico e à entrada de drogas em território americano, tendo destruído cerca de 30 embarcações e causado a morte de pelo menos 104 pessoas nos ataques. Apesar disso, aliados da Casa Branca já sugeriram que o verdadeiro objetivo é, de fato, uma mudança de regime em Caracas.