O Chile tem um novo presidente eleito. Neste domingo, 15 de dezembro de 2025, o candidato ultradireitista José Antonio Kast venceu as eleições com aproximadamente 58% dos votos, derrotando a candidata governista Jeannette Jara.
A vitória de Kast marca uma guinada política no país, que estava sob o governo de esquerda de Gabriel Boric. O presidente anterior estava impedido pela Constituição chilena, herdada da era do ditador Augusto Pinochet, de concorrer à reeleição.
Quem é José Antonio Kast e sua trajetória política
Católico e casado há mais de três décadas com a advogada Maria Pia Adriasola, com quem teve nove filhos, Kast entrou na política como estudante da Universidade Católica do Chile. Sua história é marcada pela admiração declarada pelo regime de Augusto Pinochet, tendo inclusive votado a favor da permanência do ditador no poder.
Ele foi deputado e tentou a Presidência pela primeira vez em 2016, pela União Democrática Independente (UDI), mas não passou dos 10% dos votos. Após 15 anos na sigla, rompeu com ela para fundar o Partido Republicano em 2019, de caráter ultraconservador. Em 2021, foi derrotado por Gabriel Boric.
Entre seus posicionamentos mais conhecidos estão a bandeira contra o aborto e críticas ao que chamou de "ditadura gay".
As principais propostas do "Bolsonaro chileno"
O plano de governo de Kast segue a cartilha da extrema direita internacional, com promessas duras em segurança, imigração e economia.
No campo da segurança pública, ele promete um "Plano Impecável", que inclui:
- Criação de prisões de segurança máxima no estilo de El Salvador, conhecidas por denúncias de violações dos direitos humanos.
- Aumento drástico das penas para o crime organizado.
- Guerra total ao narcotráfico e exclusão de benefícios para reincidentes.
- Modernização do sistema penitenciário.
Para a imigração, Kast adota um discurso linha dura, prometendo:
- Criminalizar a imigração irregular.
- Expulsar "todos" os imigrantes indocumentados.
- Construir muros de cinco metros de altura, trincheiras e cercas eletrificadas nas fronteiras, com uso de drones, torres de vigilância e radares térmicos.
- Patrulhamento constante por Forças Armadas e Carabineiros.
Na economia, suas propostas incluem:
- Meta de crescimento anual do PIB de 4%.
- Leis trabalhistas mais flexíveis.
- Cortes de impostos para empresas e menos regulamentação.
- Desinchar a máquina pública através de auditoria internacional, similar à proposta do argentino Javier Milei.
- Pacote habitacional intitulado "Sua casa, seu sonho. Tornada realidade".
Desafios governativos em um Congresso fragmentado
Apesar da retórica firme, analistas políticos acreditam que Kast será obrigado a negociar. O Congresso chileno está fragmentado, e sua base não terá maioria absoluta.
O ex-senador Ignacio Walker, presidente do Partido Demócrata de Centro (PDC), destacou à Fundação FHC que Kast terá que lidar com a realidade política. "'As direitas', como chamamos aqui, não terão maioria absoluta no Congresso chileno e terão que negociar com os partidos de centro-direita", disse Walker, lembrando que o próprio Kast chamava essa base de "direita covarde" durante sua campanha.
Esse cenário indica que, assim como Boric, o novo presidente eleito pode ser forçado a ceder e moderar parte de seu programa mais radical para governar efetivamente.
A eleição de Kast insere o Chile em uma onda de governos de direita e extrema direita na América do Sul, realinhando as relações geopolíticas e econômicas da região. Seus primeiros passos na Presidência serão observados atentamente, tanto por apoiadores quanto por críticos de suas polêmicas propostas.