Em um momento de crescente tensão geopolítica, 58 países da América Latina, Caribe e União Europeia se reuniram neste domingo (9) em Santa Marta, Colômbia, para emitir uma declaração conjunta que condena o uso da força e defende a estabilidade regional no Caribe.
Posicionamento diplomático em meio a crise
O documento final da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE) evitou mencionar diretamente os Estados Unidos, mas sua mensagem foi clara: oposição a qualquer ação militar que não esteja em conformidade com o direito internacional.
"Reiteramos nossa oposição à ameaça ou ao uso da força e a qualquer ação que não esteja em conformidade com o direito internacional e a Carta das Nações Unidas", afirmou o texto, que também destacou a importância da segurança marítima e da estabilidade regional no Caribe.
Contexto de tensões crescentes
A declaração ocorre em meio à escalada das tensões entre EUA e Venezuela, reflexo da decisão do presidente americano, Donald Trump, de enviar tropas para o Caribe e Pacífico em operação contra o narcotráfico. A mobilização militar inclui:
- Destróieres com mísseis guiados
- Caças F-35
- Submarino nuclear
- Aproximadamente 6.500 soldados
O republicano também revelou que autorizou a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar o presidente Nicolás Maduro.
Reações e ausências notáveis
Questionada sobre a ausência de uma menção direta aos Estados Unidos, a vice-presidente da Comissão Europeia, Kaja Kallas, foi pragmática: "Caso contrário não teríamos conseguido que os países se somassem ao texto final, muito simples".
Dois países ficaram de fora do acordo: Venezuela e Nicarágua não assinaram a declaração de 52 pontos, que também defendeu o multilateralismo e "eleições livres e transparentes".
O documento ainda abordou outros conflitos globais, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, e sugeriu a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas "para torná-lo mais representativo" - uma iniciativa apoiada pelo Brasil, que busca se tornar membro permanente do órgão.
Operações controversas no Caribe
Enquanto isso, intensificam-se os ataques a barcos que o governo americano classifica como pertencentes a "Organizações Terroristas Designadas" no Caribe e Pacífico. Até o momento, foram registradas:
- 20 explosões
- 76 mortos
Essas ações foram consideradas como "execuções extrajudiciais" pela Organização das Nações Unidas (ONU) e geraram alarme entre juristas e legisladores democratas, que as denunciaram como violações do direito internacional.
Em contrapartida, Trump argumenta que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que tornaria os ataques legítimos. Autoridades americanas afirmam que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender tripulantes e apreender cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos.
Fontes próximas à Casa Branca revelaram que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas - como pistas de pouso - sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.
Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do líder chavista. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também foi alvo de críticas de Trump, que o chamou de "líder do tráfico de drogas" e "bandido".
A cúpula na Colômbia termina nesta segunda-feira (10), mas as reverberações de seu posicionamento diplomático devem ecoar por muito mais tempo no cenário internacional.