O governo brasileiro afirmou que não ofereceu e nem pretende oferecer asilo político ou refúgio ao ditador venezuelano Nicolás Maduro. A informação foi confirmada por integrantes do governo à Folhapress nesta quarta-feira, 4 de dezembro de 2025. Segundo essas fontes, o líder da Venezuela também não sinalizou qualquer interesse em solicitar essa proteção ao Brasil, desmentindo rumores que circulavam nos últimos dias.
Análise seria feita apenas em caso de pedido formal
Apesar da negativa atual, fontes do governo afirmaram que, caso Maduro venha a pedir proteção – o que poderia ocorrer com sua entrada no território brasileiro ou na embaixada do Brasil em Caracas –, o pedido seria analisado. No entanto, a percepção entre os funcionários é de que o Brasil não seria a primeira opção do ditador.
As relações entre os dois países estão bastante estremecidas. Um dos principais motivos é o fato de o Brasil não ter reconhecido as eleições venezuelanas de 2024, consideradas fraudulentas por observadores internacionais. Outro ponto de atrito foi a recusa do governo brasileiro em aceitar a Venezuela como membro pleno do bloco dos Brics.
Prioridade é evitar intervenção militar dos Estados Unidos
Funcionários de alto escalão revelaram que a prioridade número um da política externa brasileira em relação à Venezuela é evitar uma ação militar dos Estados Unidos. Eles acreditam que o risco de um ataque americano continua alto.
Segundo a avaliação desses integrantes do governo, um ataque dos EUA teria consequências graves para toda a região. Além de provocar um fluxo ainda maior de refugiados venezuelanos para países vizinhos, poderia criar um precedente perigoso. A intervenção na Venezuela daria a impressão de que a mesma "receita" poderia ser aplicada em outros países criticados pelo presidente americano Donald Trump, como Colômbia e México, acusados de leniência com narcotráfico e migração ilegal.
Brasil não tem papel de mediador na crise
Os mesmos funcionários deixaram claro que o Brasil não exerce nenhum papel de mediação na crise entre Washington e Caracas. Eles também afirmaram que o país não teve qualquer participação no telefonema ocorrido entre Trump e Maduro.
Na visão de um deles, uma renúncia de Maduro neste momento, como pressiona a Casa Branca, causaria um caos interno na Venezuela. A avaliação é de que ninguém na oposição venezuelana, nem mesmo a líder Maria Corina Machado, teria força política suficiente para assumir o governo de forma estável. Isso geraria um vácuo de poder e instabilidade que poderia, inclusive, transbordar para o Brasil.
Eles citaram como exemplos negativos as tentativas de mudança de regime em países como Líbia, Síria, Iraque e Afeganistão, que resultaram em longos períodos de conflito e desordem.
Caso Joesley Batista e situação de Carla Zambelli
Os integrantes do governo também comentaram o caso envolvendo o empresário Joesley Batista. Eles afirmaram que o Brasil não foi informado oficialmente sobre a conversa entre Joesley e Maduro antes que ela ocorresse. Segundo a agência Bloomberg, o empresário teria pedido ao ditador que renunciasse, e a Casa Branca havia sido comunicada sobre o encontro.
Em outro desdobramento judicial, a Justiça italiana adiou para 18 de dezembro o julgamento sobre o pedido de extradição da deputada Carla Zambelli. A defesa da parlamentar, que está presa na Itália após ter sido condenada pelo STF e fugido do Brasil para escapar da pena, tenta incluir no processo documentos que alegam perseguição política contra ela no país.
O cenário descrito pelas fontes governamentais pinta um quadro de extrema cautela por parte do Brasil, que busca se manter distante de um possível conflito direto, mas profundamente preocupado com as repercussões regionais de uma escalada da crise venezuelana.