AIEA sem acesso ao Irã há 5 meses: urânio pode virar 10 bombas
AIEA sem acesso ao Irã há 5 meses para fiscalizar urânio

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) enfrenta uma grave crise de acesso ao programa nuclear iraniano, permanecendo sem condições de fiscalizar os estoques de urânio enriquecido do país desde junho de 2025. A situação foi revelada através de um documento confidencial obtido pela Associated Press nesta quarta-feira, 12 de novembro.

Fiscalização nuclear paralisada

Segundo o relatório da agência nuclear da ONU, a falta de acesso aos materiais nucleares iranianos já dura cinco meses, período considerado excessivo segundo os padrões internacionais de salvaguardas. O documento classifica a situação como crítica e destaca que deve ser "resolvida com urgência".

O último relatório completo da AIEA, divulgado em setembro, já apontava dados alarmantes: o Irã mantém um estoque de 440 kg de urânio com índice de pureza atingindo 60%. Este nível preocupa especialistas por estar muito próximo dos 90% necessários para a produção de armas nucleares.

Risco de militarização nuclear

Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA, fez uma declaração preocupante sobre o potencial militar do programa iraniano. Segundo suas estimativas, o arsenal atual de urânio enriquecido permitiria a construção de até 10 bombas atômicas caso o país decidisse militarizar seu programa nuclear.

Embora o governo iraniano insista que suas atividades nucleares têm fins exclusivamente pacíficos e voltados para geração de energia, as nações ocidentais e a própria AIEA mantêm suas suspeitas. Existem evidências de que o Irã manteve um programa de armas nucleares funcionando até pelo menos 2003.

Conflito internacional e inspeções

A crise de acesso começou em junho, quando o Irã entrou em um conflito breve com Israel e decidiu suspender a cooperação com a AIEA. Como consequência direta, os inspetores internacionais perderam acesso a instalações nucleares críticas, incluindo a Usina Nuclear de Bushehr e outras quatro instalações em Teerã, entre elas o Reator de Pesquisa da capital.

As tentativas de retomada das inspeções enfrentaram obstáculos políticos. Em setembro, o diretor Grossi chegou a se reunir com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, mas as conversas foram interrompidas pelo reestabelecimento das sanções da ONU contra o Irã no mesmo mês.

Mesmo com o impasse, há um sinal de abertura: inspetores da AIEA viajarão ao Irã para realizar uma averiguação no Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan, complexo localizado a 350 km da capital que também foi atingido pelos bombardeios de junho.

Como signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o Irã tem obrigação legal de cooperar com a AIEA e é expressamente proibido de desenvolver armas nucleares. A continuidade da falta de transparência preocupa a comunidade internacional e coloca em risco os esforços de não proliferação nuclear.