A Promotoria de Berlim apresentou uma denúncia formal contra o deputado federal Matthias Moosdorf, membro do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD). O parlamentar é acusado de ter realizado a saudação nazista dentro do edifício do Parlamento alemão, o Bundestag.
Os detalhes do incidente
O episódio que deu origem à acusação ocorreu no ano de 2023. Segundo a denúncia do Ministério Público, Moosdorf cumprimentou um colega de partido em uma antessala do Parlamento batendo os calcanhares, em estilo militar, e estendendo o braço direito. A promotoria alega que o deputado estava ciente de que o gesto, proibido na Alemanha, era "visível para outros presentes" no local.
Matthias Moosdorf, de 60 anos, é músico de formação e representa o distrito de Zwickau, no estado da Saxônia. Ele integra o AfD desde 2016 e se tornou uma das figuras mais conhecidas da legenda. A imunidade parlamentar do deputado já havia sido cassada pelo próprio Parlamento em outubro, abrindo caminho para a ação judicial.
Contexto político e reações
O partido AfD, que atualmente forma a segunda maior bancada no Parlamento alemão, foi classificado como extrema direita e uma ameaça à democracia pela agência de inteligência interna do país em fevereiro. A legenda, fundada em 2013, migrou de uma plataforma inicialmente eurocética para posições ultradireitistas, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016.
Em suas redes sociais, Moosdorf negou veementemente as acusações, classificando a denúncia de "absurda". Ele afirmou que o processo, com cerca de 200 páginas, se baseia no relato de apenas uma testemunha, um ex-deputado do Partido Social-Democrata (SPD). Segundo o acusado, oito outras testemunhas diretas, incluindo funcionários e policiais, negaram unanimemente a versão dos fatos.
Consequências legais e histórico do partido
Na Alemanha, fazer apologia ao nazismo ou utilizar seus símbolos é estritamente proibido desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Se condenado, Matthias Moosdorf pode enfrentar uma multa ou pena de até três anos de prisão. Agora, cabe a um tribunal em Berlim decidir se aceita a denúncia e abre processo contra o parlamentar pelo uso de "símbolos anticonstitucionais".
Esta não é a primeira vez que Moosdorf enfrenta sanções. Em setembro, ele foi multado em 2 mil euros pelo próprio partido por ter viajado à Rússia sem autorização prévia. O deputado mantém relações próximas com o regime de Vladimir Putin e recebeu o título de professor honorário em um conservatório russo.
O caso de Moosdorf se soma a uma série de problemas judiciais envolvendo membros da AfD. Recentemente, o deputado estadual Björn Höcke foi condenado por usar um antigo slogan da era nazista. Outro parlamentar do partido, Maximilian Krah, teve sua imunidade revogada sob suspeita de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro ligados à China.
A denúncia contra Moosdorf reforça o debate sobre a postura da AfD e seus limites dentro da democracia alemã, em um momento em que o partido aparece com força nas pesquisas de intenção de voto.