Em um momento de tensões geopolíticas crescentes, 58 das 60 nações presentes na Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE) assinaram uma declaração conjunta rejeitando categoricamente o uso da força que contradiz o direito internacional. O documento histórico foi firmado no domingo (9) durante o primeiro dia do encontro em Santa Marta, na Colômbia.
Posicionamento contra intervenções militares
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos líderes mais enfáticos ao criticar a presença militar estrangeira na região. "A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe", alertou Lula, acrescentando que "velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais".
A declaração conjunta aborda especificamente a segurança marítima e a estabilidade regional no Caribe, em clara referência aos bombardeios americanos contra embarcações supostamente carregadas com drogas que já resultaram em 70 mortos. Embora não mencione diretamente os Estados Unidos, o texto representa uma resposta coordenada às ações militares na região.
Divergências e ausências notáveis
Venezuela e Nicarágua foram os únicos países que se distanciaram do documento conjunto. Segundo a vice-presidente da Comissão Europeia, Kaja Kallas, a menção à guerra na Ucrânia foi o ponto de discórdia que impediu a adesão dos dois países.
Kallas também explicou a ausência de referências diretas ao governo Trump: "Porque não teríamos conseguido que os países se somassem [na declaração conjunta], muito simples". A declaração representa um equilíbrio diplomático delicado entre as posições diversas dos blocos.
O encontro ocorre em um contexto de participação reduzida de chefes de Estado - apenas nove entre os 33 membros da Celac e 27 da UE - e em meio à pior crise diplomática da Colômbia com os Estados Unidos, seu aliado histórico.
Conteúdo da declaração e repercussões
O documento firmado inclui:
- Rejeição ao uso ou ameaça do uso da força
- Defesa da conformidade com o direito internacional e a Carta da ONU
- Condenação à guerra contra a Ucrânia
- Referência à campanha militar israelense em Gaza
- Menção à solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense
O presidente colombiano Gustavo Petro, anfitrião da cúpula e aliado de Lula, qualificou os ataques ordenados por Trump como "execuções extrajudiciais". A tensão entre Colômbia e Estados Unidos se intensificou após Washington impor duras sanções financeiras contra Bogotá.
Enquanto isso, o presidente venezuelano Nicolás Maduro denuncia um suposto interesse da Casa Branca em derrubar seu governo, aumentando as tensões regionais. Kallas lembrou que "só se pode recorrer à força por dois motivos, seja em legítima defesa ou em virtude de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU".
A Cúpula Celac-UE encerra suas atividades nesta segunda-feira (10) em Santa Marta, deixando claro que a América Latina se reafirma como uma região de paz, mas enfrenta desafios significativos para manter essa condição diante de intervenções externas e conflitos geopolíticos globais.