
Quem se atreve a olhar para Gaza hoje encontra uma paisagem que parece saída de um pesadelo distópico. Dois anos se passaram desde aqueles ataques do Hamas em 7 de outubro que incendiaram o conflito, e o que restou é... bem, quase nada.
Andar por lá hoje é como percorrer um cemitério a céu aberto. Prédios desabados como castelos de cartas, estradas que mais parecem trilhas em meio a montanhas de concreto, e um silêncio pesado — quebrado apenas pelo gemido ocasional de alguém preso sob os escombros.
Fome como arma de guerra
A situação humanitária beira o inacreditável. A ONU não tem meias palavras: estamos falando de fome em escala catastrófica. Crianças com rostos inchados pela desnutrição, pais desesperados trocando o pouco que têm por um punhado de farinha — a vida virou uma matemática macabra de sobrevivência.
E o pior? A ajuda humanitária praticamente não chega. O cerco israelense criou um bloqueio tão eficiente que até os corredores humanitários parecem piada de mau gosto. Os poucos caminhões que conseguem passar são recebidos como milagres, mas a verdade é que são apenas gotas num oceano de necessidade.
Números que doem
Vamos aos números, porque eles contam uma história que palavras às vezes não conseguem:
- Mais de 40 mil palestinos mortos — muitos deles mulheres e crianças
- Quase 2 milhões de deslocados internos
- 80% da população dependendo de ajuda externa para não morrer de fome
- Infraestrutura básica completamente destruída
Mas sabe o que esses números não mostram? O cheiro de morte que impregna o ar. O desespero nos olhos de uma mãe que não tem o que dar ao filho. A resignação cruel de quem já perdeu tudo.
O que restou para contar história
As escolas, os hospitais, os mercados — tudo reduzido a memórias e montanhas de entulho. O que era centro de vida virou símbolo de destruição. E no meio disso tudo, a resistência teimosa de quem insiste em chamar aquilo de lar.
"A gente se acostuma com tudo, menos com a fome", me disse um ancião palestino por telefone, sua voz tremendo não pela idade, mas pela emoção. "Antes tínhamos medo dos bombardeios. Agora temos medo do silêncio, porque o silêncio significa que não há mais ninguém para gritar."
E enquanto a comunidade internacional debate — sempre debate, nunca age — a vida em Gaza se resume a buscar água potável, encontrar algo comestível e tentar não perder a sanidade em meio ao caos.
Um futuro incerto
O que vem pela frente? Difícil dizer. As negociações de paz parecem mais distantes do que nunca, e a reconstrução... bem, reconstruir o que nem existe mais como lembraça é tarefa para gerações.
Enquanto isso, Gaza respira poeira, sonha com paz e sobrevive um dia de cada vez. Dois anos depois do inferno começar, o fogo ainda arde — só que agora é um brasa silenciosa, que queima devagar, consumindo esperanças junto com os corpos.
E o mundo? O mundo assiste. Às vezes com pena, outras com indiferença, mas sempre de longe. Como se Gaza fosse um pesadelo coletivo do qual podemos acordar a qualquer momento. Só que para dois milhões de pessoas, esse pesadelo é a única realidade que lhes restou.