Um professor brasileiro decidiu resgatar do esquecimento um dos nomes mais importantes para a história das ciências naturais. Francisco de Assis Ganeo de Mello, docente do Departamento de Biodiversidade e Bioestatística do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, é o autor de uma obra dedicada a Caio Plínio Segundo, conhecido como Plínio, o Velho.
Da pergunta de um aluno ao resgate de uma obra
A motivação para o livro surgiu de uma conversa com um ex-aluno, que questionou sobre quem teria sido o grande biólogo entre Aristóteles e Lineu. "Ele citou alguns nomes, mas eu sabia que o pobre Plínio estava no esquecimento", relembra o professor. Ao buscar referências, encontrou pouca bibliografia e nenhuma em português, o que o levou a encarar o desafio de escrever a obra.
O interesse pelo naturalista romano, no entanto, vem de longa data. Francisco de Mello conheceu a figura de Plínio há mais de três décadas, através de conversas com o também pesquisador Nelson Papavero, autor de obras sobre a história da biologia. Discussões com outro colega, Nelson Bernardi, da antiga Departamento de Zoologia da UNESP, também alimentaram seu fascínio pela história da ciência.
Quem foi Plínio, o Velho?
Vivendo no século I d.C., Plínio, o Velho, foi um militar, político e, acima de tudo, um naturalista respeitado em seu tempo. Sua mente inquieta o levou a explorar e escrever sobre temas que iam de vinhos à arte, sempre com um olhar detalhista sobre a natureza.
Sua principal contribuição foi a monumental "História Natural", uma enciclopédia composta por 37 livros, considerada a primeira do gênero. "O que é mais interessante na vida de Plínio é realmente sua história", destaca o professor. "Ele participou de campanhas militares, percebeu a natureza com detalhes, minuciou numa vasta obra, ajudou no aprimoramento da vitivinicultura e observou características importantes da arte europeia durante o Império Romano."
Uma pesquisa exaustiva e um legado trágico
Para compilar as informações do livro, o professor realizou uma pesquisa exaustiva pela internet, baseando-se em fontes sérias e confiáveis. O trabalho de reunião e escrita levou dois anos para ser concluído.
A vida de Plínio, o Velho, teve um fim heroico e trágico. Ele morreu no ano 79 d.C., durante a catastrófica erupção do Monte Vesúvio, que destruiu cidades como Pompeia e Herculano. Plínio estava na região da baía de Nápoles, na Itália, tentando ajudar e resgatar vítimas da tragédia quando foi surpreendido.
Com uma carreira acadêmica marcada por experiências internacionais – como visitante na Academy of Natural Sciences of Philadelphia e treinamento no Mali – e pela montagem da maior coleção de Grylloidea (grilos) com a qual trabalha, o professor Francisco de Mello se prepara para se aposentar em um ano. Seus planos, porém, incluem continuar escrevendo.
Ele defende que todo estudante de Biologia deve conhecer a história da sua ciência. "Eu conheço vários colegas com quem posso conversar sobre biologia de maneira ampla. E isso não tem preço", conclui.
A boa notícia é que o fruto de seu trabalho está disponível gratuitamente para todos. O livro "Plínio, o Velho", escrito em português e inglês, pode ser acessado por qualquer interessado em formato de e-book, ajudando a tirar definitivamente este grande nome do esquecimento.