
Imagine estudar num lugar onde o vento, a chuva e até mesmo animais silvestres faziam parte da rotina escolar. Pois é, essa era a realidade de dezenas de alunos no interior do Acre até semana passada. Três anos. Três longos anos improvisando aulas num casebre sem paredes, onde o quadro-negro era o único sinal de que ali funcionava uma escola.
Mas a história tomou um rumo digno de filme. Na última sexta-feira (11), os estudantes da comunidade rural tiveram o que muitos chamaram de "o melhor dia letivo da vida": a inauguração de uma escola de verdade, com paredes, janelas e até ventiladores (que nesse calorão do Acre fazem toda diferença, pode acreditar).
Da lama ao concreto
O antigo "barracão escolar" — se é que podemos chamar assim — era basicamente uma estrutura de madeira coberta por lona. Nos dias de chuva forte, as aulas simplesmente não aconteciam. "A gente chegava e encontrava os cadernos todos molhados", conta Maria, 11 anos, que mal consegue disfarçar a empolgação com a mudança.
O novo colégio, construído pelo governo estadual, tem quatro salas de aula, biblioteca e até um pequeno laboratório de ciências. Parece pouco? Para quem estava acostumado a dividir espaço com galinhas e a ouvir o barulho do rio durante as explicações dos professores, é como ter ganhado na loteria educacional.
O que mudou na prática
- Matrículas aumentaram 35% desde o anúncio da nova escola
- Professores relatam maior engajamento dos alunos
- Material didático não fica mais exposto às intempéries
- Fim das aulas canceladas por causa do tempo
"A gente via que muitas crianças desistiam porque era difícil estudar naquelas condições", desabafa o professor Raimundo, que leciona há 15 anos na região. "Agora, até os pais estão mais animados a mandar os filhos pra escola."
Não é pra menos. Quem já teve que ensinar tabuada com o barulho de uma tempestade tropical de fundo sabe que educação de qualidade começa — pasmem — por quatro paredes e um teto decente. Parece óbvio, mas no interior da Amazônia, essas coisas podem demorar.
O caso dessa comunidade acreana é só a ponta do iceberg. Segundo dados do MEC, mais de 1.200 escolas rurais no Norte do país ainda funcionam em estruturas precárias. Mas se depender dos sorrisos das crianças correndo pelos corredores da nova escola, pelo menos nesse cantinho do Brasil a educação deu um salto — literalmente — do chão de terra batida para o piso de cimento queimado.