
Imagine começar o dia letivo sem uma gota d'água para beber. Segurar a sede enquanto o sol de 35°C castiga as salas de aula. Essa não é uma cena de filme distópico – é a rotina cruel que estudantes de uma escola estadual em Ananindeua, no Pará, enfrentam há meses.
As imagens chocam até quem já viu de tudo. Janelas improvisadas com pedaços de madeira, como se fossem remendos em um corpo doente. O forro? Cedendo, literalmente desmoronando sobre as cabeças de quem deveria estar protegido. E as salas de aula? Algumas viraram depósito de tralhas antigas, num descaramento sem limites.
O retrato do abandono
A gente até tenta achar palavras, mas algumas cenas dispensam adjetivos. A torneira seca no pátio é só o símbolo mais óbvio de um sistema que parece ter virado as costas para esses jovens. Como é possível concentrar nos estudos com sede? Com calor? Com o barulho constante de goteiras insistindo como um mantra da negligência?
Os professores – heróis anônimos – improvisam aulas em espaços que mais parecem garagens abandonadas. E os alunos? Ah, os alunos... Eles seguem tentando aprender algebra entre infiltrações que desenham mapas de umidade nas paredes. É de cortar o coração.
O silêncio que grita
O mais revoltante? A sensação de normalização. Como se fosse "assim mesmo" e ponto final. Os relatos dos estudantes do 1º ao 9º ano mostram uma resiliência que deveria envergonhar os responsáveis. Eles merecem mais que sobreviver – merecem uma educação digna.
Enquanto isso, a Secretaria de Educação do Estado diz que "vistoria o caso". Enquanto vistoriam, crianças aprendem que cidadania de segunda classe é sua herança inevitável. Não deveria ser assim.
Essa escola não é uma exceção – é o espelho de um Brasil que ainda precisa escolher entre investir em futuro ou aceitar a mediocridade como política de Estado. As fotos não mentem: cada rachadura conta uma história de abandono. Resta saber quem está realmente disposto a ouvi-la.