
Imagine uma sala de aula onde os livros didáticos dão lugar aos repiques dos tambores, onde as histórias não vêm impressas em páginas, mas ecoam nas vozes dos mestres da cultura. Pois é exatamente isso que está acontecendo em cantos do Rio Grande do Norte – e a coisa é mais séria e, ao mesmo tempo, mais divertida do que se possa pensar.
Longe daquela visão engessada de que folclore é assunto para um único dia no ano, algumas escolas potiguares mergulharam de cabeça. E não é brincadeira não. Eles estão pegando coisa boa: música, dança, teatro, lendas que assombram e encantam. Tudo virou ferramenta de ensino, uma forma visceral de conectar os miúdos com suas raízes.
Muito Além do Boi-Bumbá
O negócio vai bem além de decorar nomes de festejos juninos ou personagens do Sítio do Picapau Amarelo. É sobre vivência, cara. Na Escola Municipal Professor Antônio Fagundes, em Macaíba, a galera não só aprende sobre o Boi Calemba, uma tradição local fortíssima, como botam a mão na massa – ou melhor, no couro. Eles constroem instrumentos, ensaiam os toques, aprendem os passos. Vira uma coisa orgânica, sabe? Deixa de ser matéria para prova e vira parte de quem eles são.
E olha, o resultado é impressionante. Crianças que antes mal sabiam o que era um mamulengo agora debatem sobre a diferença entre o Cassimiro Coco e outras manifestações. É uma viagem no tempo, mas com os pés firmes no presente.
Os Guardiões da Tradição
O pulo do gato, me parece, está na parceria com os mestres e grupos folclóricos locais. Esses caras são enciclopédias vivas, mas do tipo que dança, canta e conta causos. Eles entram na escola não como visitantes ilustres, mas como parceiros de ofício. Mostram a sujeira debaixo da unha, o suor do ensaio, a paixão que mantém essas tradições vivas por gerações.
É uma troca que vale ouro. Os alunos ganham um repertório cultural que nenhum Google vai fornecer, e os mestres veem seu legado garantido – não num museu, mas no coração da molecada. Como disse um professor por lá, "é garantir que o futuro tenha um pé no passado".
O Que Dizem os Números (e as Almas)
Claro, sempre tem quem questione: "Isso aí é bonito, mas e o português, a matemática?".
Pois é justamente aí que a coisa fica interessante. As escolas relatam que o envolvimento com projetos folclóricos mexe com tudo. Melhora a autoestima dos alunos, trabalha trabalho em equipe, desenvolve habilidades de comunicação e, pasmem, até o rendimento nas disciplinas "tradicionais" dá um salto. Quando você aprende matemática calculando o ritmo de uma dança, ou português analisando a poesia de um aboio, o conhecimento para de ser abstrato e vira concreto.
E o mais bonito? Muitos alunos descobrem talentos que nem sabiam ter. Viram percussionistas, dançarinos, contadores de história. Acham sua voz num mundo que, às vezes, parece querer que todos cantem a mesma música.
O Desafio de Manter Viva a Chama
Não é tudo fácil, claro. Manter um projeto desses requer verba, formação de professores, tempo – coisa que sempre falta nas escolas. Mas a determinação é grande. A Secretaria de Educação tem um papel chave nisso, fomentando, dando suporte, reconhecendo que cultura não é enfeite, é pilar.
No fim das contas, o que essas escolas do RN estão mostrando é simples e genial: educação que não reconhece e valoriza sua própria cultura é educação pela metade. E folclore, quando bem feito, é isso: a alma de um povo, cantada, dançada e contada para não se perder no silêncio do tempo.