
Não é todo dia que um diretor de um dos resorts mais exclusivos do país resolve quebrar o protocolo e falar abertamente sobre política internacional. Mas eis que acontece. A decisão de Donald Trump de impor novas tarifas de importação — aquele famoso ‘tarifaco’ — está gerando mais do que simples manchetes nos jornais. Está tirando o sono de gente que mexe muito, mas muito dinheiro mesmo.
E quem diz isso não é um analista qualquer de um escritório com ar condicionado. É alguém com os pés fincados na areia fofa de Trancoso, na Bahia, e a mente nos números que, de repente, parecem não fechar como antes.
O Luxo Também Sente
O cenário é paradisíaco, claro. Só que por trás dos drinks gelados e dos lençóis de algodão egípcio, a realidade é bem menos fotogênica. O executivo — que preferiu não ter seu nome estampado, afinal, ninguém quer briga com ex-presidente americano — não esconde a apreensão. O assunto preocupa, e muito. É uma conversa que rola nos corredores, nos cafés da manhã executivos, um verdadeiro ‘brainstorm’ de preocupação.
O que está em jogo? Basicamente, uma possível reação em cadeia. A lógica é simples, mas assustadora: impostos mais altos nos EUA podem esfriar a economia de lá. E economia americana fria significa menos gente disposta a gastar uma pequena fortuna para passar dez dias em um resort brasileiro. Sim, é tão direto e cruel assim.
Efeito Dominó no Quadrado
Imagine a cena: o cliente americano — sempre top de linha, aquele que não olha preço — começa a pensar duas vezes antes de reservar a suíte presidencial. Ele paga em dólar, e qualquer turbulência na economia do Tio Sam mexe diretamente com o poder de compra dele. E se ele hesita, o caixa do resort sente. E se o caixa do resort sente, toda a região sente junto.
— É um momento de observação cautelosa — comenta o diretor, num eufemismo típico de quem está tentando não criar pânico. Trancoso não vive só de turismo de luxo, mas é inegável que ele movimenta uma parte colossal da economia local. Dos artesãos que fornecem peças para a decoração dos bangalôs aos pescadores que fornecem o peixe fresco para os restaurantes cinco estrelas. Tudo está conectado.
Não se trata apenas de um imposto. Trata-se de um sinal. Um sinal de que o mundo pode estar ficando um pouquinho mais complicado para quem depende da fartura alheia. E no fim das contas, no mercado do luxo, a confiança é a commodity mais valiosa. E ela parece estar, bem... em oferta limitada.