
Não foi com um discurso inflamado ou promessas grandiosas que Geraldo Alckmin se dirigiu aos empresários paulistas nesta sexta-feira. Foi com a linguagem franca — e um tanto técnica — de quem acredita que a saída para a tempestade tarifária que se anuncia no mundo está na mesa de negociações. O vice-presidente e ministro de Indústria e Comércio fez uma defesa apaixonada, mas pé no chão, do diálogo como arma principal.
O cenário internacional, convenhamos, não está nada amigável. De um lado, os Estados Unidos disparam tariffs como se não houvesse amanhã. Do outro, a China se prepara para retaliar. E no meio dessa briga de gigantes? Nós, é claro. O Brasil, com sua economia ainda buscando se reerguer, não pode simplesmente entrar na onda protecionista. A aposta de Alckmin é outra: abrir mais mercados.
Uma Estratégia de Contorno
Parece contra intuitivo, não? Enquanto todo mundo fecha, o Brasil deveria abrir. Mas é aí que mora o genius — ou a loucura, dependendo do ponto de vista. A ideia é simplesmente não jogar o jogo deles. Em vez de aumentar as tarifas de importação aqui também, a estratégia é correr atrás de novos acordos comerciais, diversificar para quem compra nossos produtos e, assim, criar uma rede de segurança.
“Temos que ampliar mercados, não fechar”, disse ele, com a convicção de quem já viu esse filme antes. A fala ecoa um princípio básico de economia, mas que parece ter sido esquecido por muitas potências: o comércio internacional, no fim das contas, não é um jogo de soma zero.
Os Números que Preocupam
E os motivos para agir são concretos. Dados apresentados no evento mostram que setores inteiros da indústria nacional já estão sentindo o baque. O aço, a celulose, os produtos agrícolas — todos olham para o horizonte com uma certa apreensão. Uma guerra tarifária generalizada poderia, sem exagero, jogar por terra anos de recuperação econômica.
Alckmin, no entanto, evita o catastrofismo. Prefere falar em “oportunidades disfarçadas”. A crise dos outros, argumenta ele, pode ser a nossa chance. Enquanto os grandes brigam, podemos ocupar espaços em mercados menores, mas ainda assim valiosos. África, Sudeste Asiático, Oriente Médio. A lista é longa, e a janela de oportunidade, aberta.
Além do Discurso: As Ações em Curso
E não se trata apenas de boas intenções. O governo — segundo o ministro — já está com a faca nos dentes. Negociações com o México estão avançadas. Conversas com a Indonésia ganharam novo fôlego. E até mesmo a complexíssima relação com a União Europeia, travada há anos, está sendo desengavetada com uma urgência renovada.
É uma corrida contra o relógio. E contra a inércia burocrática que sempre assombrou o Itamaraty. Dessa vez, promete Alckmin, será diferente. A equipe econômica está integrada, o Planalto dá apoio total e o setor privado — finalmente — está sendo ouvido não como um estorvo, mas como um parceiro essencial.
Será suficiente? Essa é a pergunta de um milhão de dólares que ninguém no evento soube responder com certeza. O mundo está imprevisível. Mas uma coisa é clara: a aposta brasileira na diplomacia e na abertura é, no mínimo, um refresco de lucidez em um mundo que parece ter enlouquecido.