
O Congresso Nacional está vivendo um daqules momentos que podem mudar os rumos do país. E não, não é sobre economia ou política convencional - é sobre acertar contas com a história.
Um grupo de parlamentares negros, sabe aquele que normalmente fica nas laterais dos holofotes? Pois é, eles estão tomando a dianteira numa discussão que mexe com feridas abertas há mais de cem anos. A tal da PEC da Reparação Histórica não é apenas mais uma sigla no mar de propostas legislativas.
O que está realmente em jogo?
Imagine tentar compensar 350 anos de escravidão seguidos por mais um século e meio de discriminação estrutural. Parece missão impossível, não? Mas é exatamente esse o desafio que esses parlamentares estão encarando de frente.
Os detalhes ainda estão sendo costurados - e que costura delicada! - mas a essência é clara: criar mecanismos concretos para reduzir o abismo social entre brancos e negros no Brasil. Não se trata apenas de reconhecer que houve injustiça, mas de agir para corrigi-la.
Os bastidores da articulação
Nos corredores do Congresso, o clima é de cautela otimista. Os parlamentares envolvidos sabem que estão mexendo em vespeiro. Alguns setores já começam a sussurrar objeções, enquanto outros veem a proposta como chegada com séculos de atraso.
O que mais me impressiona? A variedade de experiências pessoais que esses legisladores trazem para a mesa. Muitos carregam na própria pele - literalmente - as marcas do racismo estrutural que tentam combater.
- Propostas de cotas ampliadas no serviço público
- Linhas de crédito específicas para empreendedores negros
- Programas de acesso à terra e moradia
- Investimentos massivos em educação em comunidades periféricas
Não é pouca coisa. E o timing? Bem, sempre haverá quem diga "não é o momento certo". Mas quando seria? Daqui a mais cinquenta anos?
Os desafios pela frente
Vamos ser realistas: aprovar uma PEC nunca foi fácil. Agora imagine uma que mexe em privilégios seculares e questiona a tão falada "democracia racial" brasileira. O caminho é espinhoso, mas os parlamentares parecem dispostos a encarar a batalha.
O debate promete esquentar os plenários nas próximas semanas. De um lado, vozes que argumentam que reparação é questão de justiça. Do outro, quem vê o projeto como divisivo ou eleitoralista.
Particularmente, acho curioso como algumas pessoas conseguem achar que quatro séculos de exploração podem ser superados com "meritocracia" e boas intenções. Como se o peso da história pudesse ser simplesmente ignorado.
O fato é que, independentemente do resultado final, a simples existência dessa discussão em alto nível já representa uma vitória. Colocar o tema na mesa do Congresso é, por si só, um ato de reparação.
Resta saber se as palavras vão se transformar em ações concretas. O Brasil está assistindo - e, principalmente, a população negra está esperando.