
Numa tarde que misturava o calor úmido da Amazônia com a tensão de décadas de espera, o prédio do Ministério Público Federal em Santarém virou palco de algo que muitos pensavam que nunca veriam. A retomada da Mesa Quilombola do Baixo Amazonas — e olha que essa história tem mais camadas que uma cebola.
Quem chegou cedo viu de perto: representantes de comunidades quilombolas, alguns com as mãos calejadas de tanto trabalhar na roça, outros com cadernos cheios de anotações amareladas pelo tempo. Todos com a mesma pergunta na ponta da língua: "Dessa vez vai?"
O que tá rolando de verdade
Pra quem não tá ligado no assunto — e olha que deveria — essa tal de Mesa Quilombola é tipo um ringue onde se discute (e muito) os direitos dessas comunidades sobre suas terras. Só que nos últimos anos, ficou mais parada que relógio quebrado. Até agora.
- O jogo mudou: Dessa vez, o MPF trouxe na bagagem um pacote com novas propostas de regularização fundiária
- Números que doem: Na região, estima-se que mais de 30 comunidades quilombolas ainda esperam pelo reconhecimento oficial de seus territórios
- O pulo do gato: Incluiu no debate órgãos que antes ficavam de fora, como a Funai e o Incra
Numa das falas mais marcantes do dia, dona Maria do Carmo — líder comunitária com 72 anos e uma história de vida que daria um livro — soltou: "A gente não quer favor, quer direito. E cansei de esperar sentada." Palmas ecoaram pela sala.
E agora, José?
O próximo passo? Uma série de reuniões técnicas que prometem — ou pelo menos deveriam — destravar processos emperrados há anos. Tem gente que duvida, tem gente que acredita. O certo é que, depois de tanto tempo, qualquer movimento é melhor que o silêncio.
Enquanto isso, nas comunidades, o clima é de cautela misturada com esperança. Como me disse um jovem quilombola ao sair do encontro: "Tô guardando o champanhe, mas só vou abrir quando vir o documento assinado." Sábio, não?