Declarações de Trump geram medo em comunidade somali de Minnesota
Trump chama somalis de 'lixo' e gera pânico em Minnesota

Um clima de medo e apreensão tomou conta da comunidade somali no estado americano de Minnesota, após declarações agressivas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Durante uma reunião de gabinete televisionada na terça-feira, 2 de dezembro de 2025, Trump se referiu aos imigrantes da Somália como "lixo".

Comunidade em pânico e negócios paralisados

As palavras do ex-mandatário, somadas ao início de uma campanha de deportações pelo ICE (Serviço de Imigração e Controle Alfandegário) na região metropolitana de Minneapolis-Saint Paul, conhecida como Twin Cities, forçaram muitos somalis a se esconder e viver em estado de alerta permanente.

Ifrah Farah, cidadã americana de origem somali e proprietária de um salão de beleza, desabafou à Reuters: "Eu não me sinto eu mesma porque tenho medo em todo lugar que vou. Sou um alvo? Eu nem sei. Isso é muito triste". Ela, que nunca cometeu qualquer crime, ressaltou: "Nunca fiz nada de errado. Sou uma mãe trabalhadora. Nós não somos lixo".

O centro comercial Karmel Mall, ponto de encontro vital para a comunidade, ficou praticamente vazio na quarta-feira, 3 de dezembro. Hayat, dona de uma loja de roupas no local, relatou uma queda de 90% no movimento de clientes, atribuída ao temor da presença de agentes do ICE. A maioria dos negócios no mall é administrada por mulheres somalis, e todas relatam prejuízos severos.

Investigação de fraude usada como justificativa

O estopim para a retórica e as ações contra a comunidade foi uma investigação do Departamento de Justiça dos EUA sobre um esquema de fraude com fundos de auxílio à COVID-19, destinados à alimentação infantil. A investigação apontou que 77 indivíduos, muitos com origens na Somália, desviaram os recursos.

Pelo menos 56 dos envolvidos já se declararam culpados. A suposta líder do grupo, no entanto, é uma mulher branca de Minnesota, condenada por quatro acusações de fraude eletrônica. Apesar disso, defensores dos imigrantes acusam Trump de usar o caso isolado para atacar toda a comunidade somali de forma generalizada.

"Zona de guerra" e perfilamento racial

O aumento visível da presença do ICE fez com que muitos membros da comunidade passassem a carregar seus passaportes para todos os lugares, com medo de serem parados e deportados sem justificativa. Jamal Osman, membro do conselho municipal de Minneapolis e refugiado somali, disse que a região metropolitana se parece com uma "zona de guerra". Ele recebe ligações constantes de eleitores perguntando se é seguro sair às ruas.

Autoridades federais, por outro lado, negam a prática de perfilamento racial. Tricia McLaughlin, secretária assistente do Departamento de Segurança Interna, afirmou: "O que faz de alguém um alvo do ICE não é sua raça ou etnia, mas o fato de que ele está ilegalmente no país". Ela confirmou o aumento nas deportações naquela semana, enquanto líderes locais apontam que as ações se concentram no bairro de Cedar-Riverside, epicentro da comunidade somali.

A maior parte dos cerca de 84 mil somalis que vivem na área de Minneapolis-Saint Paul chegou aos EUA como refugiada da guerra civil que assola a Somália desde 1991, um êxodo global que já superou 1 milhão de pessoas. No entanto, uma parcela significativa da comunidade atual já nasceu em solo americano.

As medidas promovidas pela Casa Branca e os ataques verbais de Trump foram duramente criticados por autoridades locais. O prefeito de St. Paul, Melvin Carter, indignado, declarou: "Isso não é segurança pública", classificando as operações do ICE de "carnaval". Jaylani Hussei, diretora executiva do Conselho de Relações Americano-Islâmicas em Minnesota, alertou para as consequências das falas do ex-presidente, incluindo um aumento preocupante de ameaças online contra a comunidade somali.