O Maranhão se consolidou como o estado nordestino com a maior taxa de empreendedorismo entre a população negra, conforme revelou um estudo divulgado pelo Sebrae na quinta-feira, 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra.
O levantamento aponta que aproximadamente 16,5% dos empreendedores maranhenses são negros, um número que evidencia o crescimento do protagonismo e empoderamento desse grupo dentro do setor econômico regional.
Negócios que valorizam identidade e ancestralidade
De acordo com a análise do Sebrae, uma parcela significativa desses empresários investe em produtos ou serviços que promovem a valorização da identidade negra. Eles transformam a conexão com suas raízes ancestrais em uma ferramenta de empoderamento econômico, criando negócios que vão além do lucro e assumem um papel social importante.
Nesse contexto, o g1 Maranhão destacou histórias de mulheres empreendedoras que constroem seus negócios a partir do fortalecimento de suas próprias raízes culturais.
Histórias de transformação através da estética
Neide Baldez e Rosilda Melo representam esse movimento crescente no estado. Ambas desenvolveram empreendimentos focados na estética afro, atividades que se tornaram símbolos de resistência e que contribuem de forma consistente e sustentável para a economia local.
Neide Baldez é proprietária de uma loja especializada em produtos como bijuterias, faixas, bolsas e turbantes confeccionados com estampas exclusivas e tecidos africanos autênticos. Ela revela que o negócio nasceu de uma jornada pessoal de autoconhecimento.
O processo de afirmação de sua identidade como mulher negra a motivou a investir em produtos que representassem a beleza de suas origens, permitindo que outras pessoas vivenciassem a mesma transformação de autoestima que ela experimentou.
A empreendedora ressalta que o significado dos acessórios afro transcende o aspecto visual, criando uma ligação emocional que ajuda pessoas negras a ocuparem espaços com mais orgulho e autenticidade.
"Para muitas clientes, usar um turbante, um brinco ou uma estampa africana é um ato emocional: é se ver bonita, pertencente e respeitada", afirmou Baldez. "Eu sempre digo que cada peça carrega cuidado, representatividade e resistência. E quando a cliente veste, ela completa essa narrativa com a própria história dela."
Cuidado capilar como resgate ancestral
Assim como Neide, a empreendedora Rosilda Melo também trabalha com o fortalecimento da autoestima de pessoas negras, mas atuando em um segmento diferente: o da beleza capilar.
Trancista profissional, Rosilda mantém vivo um estilo que perdura há milênios como representação de memória e resistência cultural. Segundo ela, muitas mulheres a procuram por não conseguirem enxergar beleza em seus cabelos crespos ou cacheados.
Outras clientes estão em processo de transição capilar e buscam se sentir mais seguras durante essa transformação. Mas todas compartilham um desejo em comum: se sentirem valorizadas em sua própria identidade.
"O que mais me gratifica na minha profissão é trabalhar autoestima", enfatizou Rosilda. "Elevar a autoestima não só de jovens que chegam para fazer tranças, mas de muitas mulheres que não conseguem enxergar a própria beleza e a beleza dos seus cabelos. Ver como elas se olham depois que finalizo uma técnica é muito especial, porque meu trabalho não é só sobre estética. É sobre cuidado, identidade e valorização."
Impacto econômico e social
Para Reijiane Almeida, coordenadora do programa Plural do Sebrae no Maranhão, os pequenos negócios afro representam uma força estratégica para o desenvolvimento econômico e social do país.
Ela destaca que o empreendedorismo negro movimenta cadeias produtivas completas e, principalmente, ajuda a reduzir desigualdades históricas ao resgatar narrativas que valorizam a ancestralidade africana.
"No campo da estética e da identidade, iniciativas como o trabalho de trancistas, designers e criadoras de acessórios afro representam muito mais do que produtos ou serviços", destacou a coordenadora. "Elas afirmam cultura, pertencimento e protagonismo. São negócios que resgatam narrativas, valorizam a ancestralidade e constroem autoestima, especialmente para a juventude negra."
Os dados do Sebrae reforçam que, além do significado cultural, esses empreendimentos têm se mostrado economicamente viáveis, contribuindo para geração de renda e desenvolvimento regional de forma sustentável.