
O cenário para os apicultores do Piauí não está nada doce — e o motivo tem nome e sobrenome: Donald Trump. As recentes tarifas impostas pelo governo americano estão deixando um gosto amargo no mercado internacional de mel orgânico, justamente um dos carros-chefe do estado.
Imagine só: enquanto o mundo discute sustentabilidade, um produto 100% natural, sem químicos e feito com técnicas ancestrais pode ficar encalhado por burocracia. Ironia? Talvez. Mas a realidade é que os produtores locais estão de cabelo em pé.
O mel que vale ouro (mas pode virar pó)
Diferente do convencional — aquele que você encontra em qualquer mercado —, o orgânico exige um ballet de cuidados:
- Abelhas criadas sem antibióticos (sim, elas também ficam doentes)
- Florestas intocadas por agrotóxicos num raio de 3km
- Processamento artesanal que mantém todas as propriedades
Resultado? Um produto premium que chega a valer o triplo no exterior. Ou valia...
O xadrez das tarifas
Os números não mentem: só em 2024, o Piauí exportou mais de 120 toneladas para os EUA. Agora, com a taxação extra de 27%, os compradores americanos estão hesitantes. "É como levar um tiro no pé", desabafa João Silva (nome fictício), produtor há 15 anos.
E tem mais: enquanto a Europa abre as portas para produtos sustentáveis, os EUA — tradicional comprador — parece estar indo na contramão. Coincidência ou estratégia comercial? Difícil dizer.
E o consumidor brasileiro?
Aqui vai um paradoxo: enquanto lá fora brigam pelo nosso mel, muitos brasileiros nem sabem diferenciar os tipos. Vamos desmistificar:
- Cor: O orgânico tende a ser mais claro, quase âmbar
- Textura: Cristaliza mais rápido — sinal de pureza
- Sabor: Notas florais marcantes, sem aquele "gosto de queimado"
Mas atenção: o preço mais salgado não é só marketing. Manter colmeias 100% naturais exige o dobro de trabalho e áreas específicas — cada vez mais raras.
Enquanto isso, no Piauí, os apicultores fazem contas e torcem para que a próxima jogada comercial não seja um cheque-mate. Afinal, quando o assunto é mel orgânico, o estado tem tudo para ser protagonista — se as regras do jogo permitirem.