O mercado brasileiro de proteínas animais registrou uma significativa mudança em outubro, com a carne suína recuperando competitividade frente ao frango após cinco meses consecutivos de desvantagem nos preços. A inversão foi identificada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP de Piracicaba.
Gangorra de preços entre as proteínas
O movimento de alta nas cotações do frango e a queda nos valores da carne suína resultaram em um cenário favorável para a proteína suína. Em outubro, o quilo do frango inteiro resfriado foi comercializado a R$ 4,55 abaixo da cotação da carcaça especial suína, uma diferença 1,5% menor que a observada em setembro.
O frango inteiro resfriado registrou valorização de 6% em relação a setembro, com a média passando para R$ 7,99 o quilo. Os pesquisadores do Cepea destacam que esse cenário sustentou o avanço do preço médio mensal da carne de frango em outubro, mesmo com retrações no final do mês.
Exportações influenciam mercado doméstico
Um dos fatores determinantes para o enxugamento da oferta interna de frango tem sido a retomada das exportações a patamares próximos aos observados antes da ocorrência da gripe aviária. O Brasil havia registrado um caso da doença em maio, em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, mas se declarou livre da enfermidade em junho.
No segmento suíno, a disponibilidade interna de carne em outubro foi a segunda menor de 2025. Foram destinadas ao mercado doméstico 191,5 mil toneladas de carne suína, contra 194 mil toneladas em setembro. A mínima do ano havia sido registrada em junho, com 185 mil toneladas.
Os pesquisadores do Cepea explicam que esse cenário está atrelado ao avanço nas exportações brasileiras da proteína e à desaceleração no número de abate. O pico de disponibilidade interna em 2025 ocorreu em julho, quando quase 240 mil toneladas foram disponibilizadas no mercado doméstico.
Recordes nas exportações
As exportações brasileiras de carne suína alcançaram patamares históricos em outubro. A média diária de embarques ficou em 15,1 mil toneladas, a maior para o período considerando a série histórica da Secex. Isso deve resultar em um escoamento total de 136,1 mil toneladas de carne suína in natura.
Quanto aos abates, estimativas realizadas pelo Cepea com base em dados do Ministério da Agricultura e Pecuária apontam uma possível redução de 9% em outubro.
O volume exportado de carne suína brasileira cresceu cerca de 72% entre janeiro e agosto de 2025. Em janeiro, foram 7,7 mil toneladas da proteína exportada, enquanto em agosto a quantidade passou para 13,3 mil toneladas.
O Chile emergiu como importante destino, assumindo a posição que até então vinha sendo sustentada pela China. Em julho, 14,5 mil toneladas de carne suína foram escoadas ao país sul-americano, o dobro do volume de janeiro. As Filipinas se mantêm como maior destino da carne suína brasileira desde fevereiro.
Os pesquisadores atribuem o aumento dos embarques ao Chile ao reconhecimento, pelo governo chileno, do Paraná como livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica.
Melhora no poder de compra dos produtores
Os produtores paulistas de carne de porco vivem o momento mais favorável em relação ao poder de compra do farelo de soja, insumo essencial para a suinocultura. O poder de compra atual está 54% acima da média da série histórica do Cepea, iniciada em janeiro de 2024.
Com a venda de um quilo do suíno vivo no interior de São Paulo, especialmente na região de Campinas, o produtor conseguiu comprar 5,57 quilos de farelo em setembro. Essa é a maior quantidade registrada pelo Cepea desde dezembro de 2004.
Além dos preços mais firmes de venda do suíno vivo, o valor médio do animal em setembro, de R$ 9,25 o quilo, foi o maior de 2025. Esse cenário favorável ao suinocultor é influenciado pelas recentes fortes desvalorizações do farelo de soja.
O movimento de alta nos preços do suíno vivo e da carne de porco se manteve desde o fim do primeiro semestre de 2025, contrariando o cenário típico de recuos para esse período do ano.