Polêmica dos preços alimenta debate nas redes sociais
Durante a COP30 em Belém, poucos assuntos conseguiram rivalizar com as discussões sobre emergência climática como a polêmica em torno dos preços dos alimentos dentro da área oficial do evento. O tema rapidamente se tornou mais um ponto de discórdia entre esquerda e direita nas redes sociais, criando uma polarização que não reflete completamente a realidade dos preços praticados na cidade.
Dentro da Blue Zone, os restaurantes cobram entre 90 e 110 reais por pratos principais, enquanto os quiosques espalhados pelos corredores comercializam salgados que variam de 30 reais por um pão de queijo a 45 reais por uma coxinha. A água mineral é vendida a 25 reais, valores que assustaram muitos participantes e geraram intenso debate online.
Realidade diferente fora do perímetro oficial
Enquanto a polêmica dominava as discussões nas redes sociais, do lado de fora do Parque da Cidade - local que sedia a COP30 próximo a uma área militar - os preços se mostram bem mais condizentes com a realidade brasileira. Mesmo nos lugares turísticos da capital paraense, onde se esperava um aumento significativo por conta do maior fluxo de visitantes, os valores se mantêm acessíveis.
No Ver-o-Peso, mercado popular da capital paraense que serve como termômetro dos preços locais, as refeições típicas custam entre 40 e 50 reais. Um copo de 400 mililitros de suco de frutas regionais como cupuaçu, taperebá, murici e graviola é vendido por apenas 10 reais.
Nazaré Barros, de 62 anos, que trabalha no mercado desde os 12, comemora o aumento do movimento: "O movimento já cresceu uns 50%. É um outro Círio para nós", referindo-se à famosa festa religiosa que tradicionalmente lota Belém.
Contraste entre dentro e fora da COP30
A reportagem conversou com um dos donos de restaurante da Blue Zone, que atribuiu os preços elevados à organização do evento: "A ONU não deu nenhum tipo de referência para a gente. Bastava ter soltado um caderno estabelecendo o padrão da comida e o preço médio que queria que praticássemos. Estão reclamando dos valores, mas só o quilo do pato que estou servindo não sai por menos de 200 reais", justificou.
Participantes de edições anteriores da conferência da ONU afirmam que, convertido para dólares, os preços estão dentro do que costuma ser praticado em eventos internacionais do mesmo porte. No entanto, a divulgação dos valores nas redes sociais inflamou opiniões e preocupou quem se preparava para a abertura da COP30, prevista para segunda-feira, 10 de novembro de 2025.
Em meio à controvérsia, um restaurante ligado à sócio-bio-economia, mantido pela cooperativa Central do Cerrado, tem atraído o público da Blue Zone ao oferecer refeições completas - incluindo arroz, feijão, uma proteína, legumes, salada, suco e sobremesa - por 40 reais, com a vantagem adicional de servir comida orgânica.
Impacto positivo no comércio local
Nas Docas, área revitalizada do porto de Belém que abriga restaurantes sofisticados, o movimento registra aumento significativo. O local se tornou ponto de encontro preferido dos participantes da COP30 durante os horários de folga, onde representantes de diversas delegações passeiam à beira do rio e se alimentam gastando, em média, 70 a 90 reais por prato.
No Zio Cucina, o gerente Marcelo Almeida, de 45 anos, relata um aumento de 20% no movimento. "Fizemos um reajuste prévio de 10% no cardápio, mas porque ficamos um bom tempo sem mexer nos preços", explica. Almeida se mudou para Belém há três meses, após longa carreira em estabelecimentos conhecidos de São Paulo, motivado pela crença de que a COP30 pode modificar a realidade local através das oportunidades criadas pela agenda climática.
No entanto, nem todos os comerciantes comemoram. Nas barracas que vendem artesanato e produtos típicos da Amazônia, como óleos, ervas e essências, o clima é de certa decepção. Sara Alexandre Pereira, de 54 anos - sendo 47 dedicados à sua barraca de incensos, sachês de patchouli e óleo de copaíba - confessa: "Aumentei o estoque em 200% e até agora não vi vantagem".
Enquanto a polêmica sobre os preços dentro da COP30 continua nas redes sociais, a realidade econômica de Belém mostra dois cenários distintos: de um lado, os valores elevados dentro do evento oficial; de outro, o comércio local aproveitando o aumento do fluxo de visitantes com preços mais acessíveis, demonstrando que a polarização nas redes não reflete completamente a complexidade da situação real.