
O setor de exportação de tilápia está em alerta. E não é por causa do clima ou da demanda internacional — o que tira o sono dos produtores é a ajuda do governo. Pode parecer contraditório, mas é isso mesmo. O empresário João Silva (nome fictício para preservar a identidade), dono de uma das maiores exportadoras do país, não vê com bons olhos o pacote de auxílio anunciado recentemente.
"É aquela velha história", diz ele, enquanto ajusta o chapéu de palha. "Dinheiro que cai do céu sempre vem com rasteira. Amanhã ou depois, você vai ter que devolver — e com juros." A fala, carregada de experiência, reflete um ceticismo que vai além da sua empresa.
O que está em jogo?
O governo prometeu incentivos para impulsionar as exportações de tilápia, incluindo redução de tarifas e linhas de crédito especiais. Soa bem, não? Mas os produtores estão com o pé atrás. Afinal, quem já viu o filme sabe como termina.
- Custos administrativos ocultos
- Burocracia que engole tempo e paciência
- Condicionantes que aparecem depois
"Já passamos por isso em 2019", lembra Silva. "No começo é mel na chupeta, depois vira um pesadelo." Ele se refere a programas anteriores que, segundo ele, acabaram criando mais problemas do que soluções.
O outro lado da moeda
Claro que nem todo mundo pensa igual. Alguns produtores menores veem a iniciativa como uma tábua de salvação. "Precisamos de qualquer ajuda", admite Carlos Mendes, dono de um criatório médio. Mas até ele reconhece: "O diabo está nos detalhes".
Enquanto isso, o mercado internacional observa. A tilápia brasileira conquistou espaço, mas a concorrência é feroz. Vietnã e China não estão brincando de peixe. E sem competitividade real — não artificial —, o setor pode perder terreno.
No final das contas, como diz o ditado popular: "Presente de grego a gente desconfia". E no agronegócio, onde as margens são apertadas, essa desconfiança pode fazer toda diferença entre o lucro e o prejuízo.