
Era questão de tempo. Depois de semanas com a população mineira sentindo no bolso — e no estômago — os efeitos do tarifaço, o governo estadual finalmente colocou as cartas na mesa. Nesta quarta (30), Romeu Zema desembarcou no Palácio da Liberdade com um pacote que promete, pelo menos, amenizar a crise.
Não foi um discurso bonito. Nem poderia ser. O tom era mais de "vamos consertar o estrago" do que "comemorem". Mas, convenhamos, depois de ver contas de luz, água e transporte público subirem como foguete de São João, qualquer alívio é bem-vindo.
O que está pegando?
O governador — aquele mesmo que costuma falar em "gestão enxuta" — admitiu o óbvio: os reajustes estavam saindo do controle. "Tem coisa que não dá pra engolir", soltou, numa rara concessão ao linguajar popular. E detalhou:
- Transporte público: Congelamento temporário das passagens de ônibus intermunicipais (aqueles que ligam cidades do interior)
- Energia: Criação de um fundo emergencial para subsidiar tarifas de famílias de baixa renda
- Saneamento: Revisão dos contratos com concessionárias — "Quem não cumprir meta, paga multa pesada"
Ah, e tem mais: uma força-tarefa com Procon e Anatel para investigar possíveis abusos. "Se tiver empresa querendo passar a perna no consumidor, vai ter que responder", avisou Zema, com aquele jeito mineiro de falar ameaças educadamente.
E agora, José?
As medidas são paliativas — até o governo reconhece. Mas, entre nós mortais, melhor um curativo improvisado que deixar o sangramento continuar, não? O problema é que...
...o pacote não mexe em questões estruturais. Os especialistas já avisam: sem reforma tributária e novos modelos de concessão, daqui a seis meses estaremos nessa mesma roda-viva. "É como tomar analgésico pra dor de dente sem ir ao dentista", resumiu um economista que prefere não se identificar.
Enquanto isso, nas filas do ônibus em BH, a opinião é unânime: "Tá tarde, mas melhor que nada". Maria das Dores, diarista de 54 anos, contou que já deixou de comprar remédio pra pagar conta de luz. "Tomara que dessa vez coloquem a mão na consciência", torce, sem muito otimismo.
O fato é que o governo mineiro acordou tarde para o problema. Mas, como diz o ditado, antes tarde do que... bem, você sabe como termina.