
Imagine acordar e não conseguir escovar os dentes. Muito menos tomar banho ou cozinhar. Essa tem sido a realidade absurda de centenas de famílias no bairro Cidade de Deus, em Manaus, que completam cinco dias de tortura seca — sem uma gota d'água nas torneiras.
"É desumano", desabafa Dona Maria, 62 anos, enquanto mostra as garrafas plásticas que viraram seu "kit sobrevivência". Ela, que já enfrentou enchentes históricas, diz nunca ter visto coisa parecida: "Até água da chuva estamos guardando, mas não dá pra tudo..."
O que dizem as autoridades?
Enquanto isso, o Serviço Autônomo de Saneamento (SAS) — responsável pelo abastecimento — joga a culpa em "problemas técnicos" na estação de tratamento. Prometem normalização até quarta-feira, mas os moradores, cansados de promessas vazias, não acreditam mais.
"Toda vez é a mesma história", reclama o pedreiro Raimundo Silva, mostrando a caixa d'água vazia. "Ano passado foi 3 dias sem água, agora já vamos pra uma semana. Cadê o progresso que tanto falam?"
Efeitos dominó
- Comércios fechando mais cedo — sem água, não há como limpar ou preparar alimentos
- Idosos tendo que carregar baldes pesados em pleno calor amazônico
- Crianças faltando aula por falta de condições básicas de higiene
Pior: segundo a Defesa Civil, o bairro nem está entre os "prioritários" no plano de emergência. "Isso aqui virou terra sem lei", protesta a líder comunitária Ana Paula, enquanto mostra fotos de poças contaminadas que alguns estão usando por desespero.
Será que precisa alguém ficar doente pra tomarem providência? A pergunta fica no ar, assim como o cheiro forte que começa a tomar conta das ruas. Enquanto isso, o relógio marca mais um dia de seca na "Cidade que deveria ser de Deus, mas tá parecendo o deserto".