
Imagine acordar com o celular descarregado, sem luz e descobrir que metade do país está na mesma situação. Foi exatamente isso que aconteceu na madrugada de domingo, quando um simples — mas devastador — incêndio em uma subestação no interior do Paraná conseguiu o improvável: deixou o Brasil inteiro no escuro.
Parece exagero, mas a matemática do sistema elétrico não perdoa. A subestação de São Jerônimo da Serra, que pegou fogo por volta das 2h30 da madrugada, era muito mais do que um ponto qualquer no mapa energético. Era um nó vital, uma espécie de encruzilhada por onde passavam linhas de transmissão que conectam praticamente todas as regiões do país.
O efeito dominó que ninguém esperava
Quando as chamas consumiram os equipamentos da subestação, o sistema entrou em colapso quase instantaneamente. E aqui vem a parte que pouca gente entende: não foi falta de energia, foi excesso dela. Sim, você leu certo.
Com a subestação fora do jogo, a energia que deveria passar por ali simplesmente não tinha para onde ir. Foi como fechar uma torneira gigante com a água ainda correndo — a pressão aumenta até algo estourar. As usinas do Rio Madeira, incluindo Jirau e Santo Antônio, tiveram que ser desligadas às pressas para evitar danos maiores.
Por que o Brasil todo?
É aí que a coisa fica interessante. Nosso sistema elétrico é todo interligado, uma teia complexa onde tudo se conecta. A região Norte, por exemplo, depende do Sul e Sudeste para equilibrar sua geração. Quando o Paraná caiu, foi como puxar o tapete de um malabarista — tudo desabou.
O Operador Nacional do Sistema (ONS) tentou conter o estrago, mas a velocidade do colapso foi assustadora. Em questão de minutos, o blecaute se espalhou de Norte a Sul. Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste — todos sentiram o baque. Alguns lugares ficaram até 3 horas no escuro, outros se recuperaram mais rápido, mas o susto foi geral.
E o que mais assusta os especialistas? É que esse incidente revelou uma vulnerabilidade que muitos suspeitavam, mas poucos tinham visto na prática: nosso sistema é tão interligado que um problema local pode virar nacional num piscar de olhos.
Lições de um blecaute
Enquanto as equipes trabalhavam para normalizar o fornecimento — o que aconteceu por volta das 5h30 —, ficou claro que precisamos repensar algumas coisas. A dependência excessiva de pontos únicos de transmissão, a necessidade de sistemas de proteção mais robustos, a urgência em diversificar rotas de energia...
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já marcou reuniões de emergência. O ONS prometeu um relatório detalhado. Mas para o cidadão comum, que ficou às escuras na madrugada, a lição foi mais prática: talvez seja hora de ter uma lanterna — ou um power bank — sempre por perto.
Porque como mostrou essa madrugada histórica, às vezes basta um curto-circuito no lugar certo — ou melhor, no lugar errado — para lembrar o quanto dependemos daquilo que quase nunca notamos: a energia que corre silenciosamente pelos fios.