Uma campanha publicitária da Havaianas, estrelada pela atriz Fernanda Torres, gerou uma reviravolta inesperada no mercado financeiro e nas redes sociais. Apesar de ter se tornado alvo de um boicote promovido por políticos e apoiadores da direita brasileira, a empresa dona da marca, a Alpargatas, viu suas ações na Bolsa de Valores (B3) apresentarem uma valorização significativa.
Reação do mercado surpreende após início de polêmica
O anúncio que desencadeou a controvérsia mostra Fernanda Torres rejeitando a ideia supersticiosa de começar o ano "com o pé direito". A fala foi interpretada por alguns setores como uma posição política de oposição, levando a chamados para boicote à marca. Inicialmente, a reação do mercado foi negativa: na segunda-feira, 22 de dezembro, as ações da Alpargatas chegaram a cair 2,7%.
Contudo, o cenário se inverteu de forma surpreendente na terça-feira, 23 de dezembro. Os papéis da companhia registraram uma alta de 3,5%, sendo negociados a R$ 11,85 por volta das 15h. Com essa recuperação, o valor de mercado da empresa, dona das famosas sandálias, se aproximou dos R$ 7,3 bilhões na B3.
Guerra nas redes sociais: Havaianas e Ipanema em lados opostos
Enquanto a campanha de boicote ganhava corpo nas redes sociais, com manifestações simbólicas como a sugestão de pular com apenas o pé direito em frente às lojas, a Havaianas colheu um efeito colateral positivo em termos de visibilidade. O perfil oficial da marca no Instagram teve um ganho líquido de mais de 150 mil seguidores em 48 horas, ultrapassando a marca de 4,3 milhões. O crescimento entre sábado, 20, e segunda-feira, 22, foi um dos mais expressivos da história da marca na plataforma.
Por outro lado, a principal concorrente, a Ipanema, soube capitalizar a polarização. A marca se posicionou como alternativa para os consumidores descontentes e viu seu perfil no Instagram explodir com a adição de mais de 440 mil novos seguidores em apenas 24 horas. A rede social foi inundada de mensagens de apoio, como a da diretora de TV Lucimara Parisi, que escreveu: "Vou entrar no ano novo pela direita, vou de Ipanema". Outros internautas vislumbravam oportunidades de negócio: "Se a Ipanema souber aproveitar o momento vai triplicar o faturamento!", comentou um usuário.
O que os números revelam sobre consumo e política
O episódio ilustra como marcas consolidadas podem apresentar resiliência mesmo diante de tempestades políticas nas redes sociais. A alta nas ações da Alpargatas sugere que o mercado financeiro pode ter avaliado que o barulho gerado pela polêmica não se traduzirá em um impacto financeiro duradouro para a empresa, ou que a atenção extra pode até beneficiar a marca em outros segmentos de consumidores.
Ao mesmo tempo, a explosão de seguidores da Ipanema demonstra a velocidade com que os concorrentes podem se beneficiar de crises alheias no ambiente digital, capturando um público momentaneamente deslocado. A situação coloca em evidência a complexa relação entre consumo, identidade política e marketing no Brasil atual, onde gestos simbólicos podem rapidamente escalar para debates nacionais e movimentar tanto o mercado financeiro quanto as métricas das redes sociais.