O estado de Goiás, tradicionalmente conhecido pelas paisagens do Cerrado, cachoeiras e parques, está ganhando destaque nacional por seu impressionante mundo subterrâneo. De acordo com dados recentes do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav/ICMBio), o território goiano abriga 1.136 cavernas registradas, representando aproximadamente 4,36% do total nacional.
O potencial do espeleoturismo em Goiás
Esse patrimônio natural subterrâneo, ainda pouco explorado, apresenta enorme potencial para o desenvolvimento do turismo de aventura, científico e educativo - segmento que especialistas denominam espeleoturismo. Entre os locais mais emblemáticos do estado está o Parque Estadual da Terra Ronca, situado no município de São Domingos, considerado um dos maiores complexos espeleológicos da América Latina.
O parque impressiona pela dimensão: mais de 250 cavernas identificadas distribuídas em uma área de aproximadamente 57 mil hectares. Além deste destaque, outras formações atraem visitantes interessados em explorar as belezas subterrâneas goianas, como a Gruta dos Ecos, em Cocalzinho de Goiás, e a Lapa do Reinaldo, em Posse.
Experiências transformadoras nas profundezas
Flávio Alves, analista de TI e turista de cavernas, compartilhou sua experiência na Gruta dos Ecos. "Foi uma experiência fantástica, indescritível. Uma descida de aproximadamente 180 metros, com mais de 1.500 metros de extensão, que termina em um lago subterrâneo de água cristalina. Realmente parece que você está em outro mundo", relatou.
João Siqueira, assessor jurídico que visitou o Parque Estadual da Terra Ronca em outubro, confirmou o impacto da experiência. "A experiência foi uma das melhores que eu já tive na vida. As belezas das cavernas são surreais e mostram o quanto a natureza é grandiosa", disse ele, destacando a importância de seguir as orientações dos guias locais durante as trilhas.
Equilíbrio entre turismo e preservação
Renata Momoli, espeleóloga, professora e pesquisadora do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), alerta sobre a necessidade de garantir o equilíbrio entre visitação e preservação. Segundo ela, o turismo pode ser tanto um aliado quanto um fator de degradação das cavernas, dependendo de como é conduzido.
"Se o turismo é conduzido sem capacitação adequada ou com negligência, os riscos de visitar lugares como cavernas se elevam drasticamente, tanto para as pessoas, em termos de segurança, quanto para a própria caverna", explica a especialista.
Renata enfatiza que as pesquisas científicas são fundamentais para o planejamento turístico adequado, pois podem identificar riscos geotécnicos como deslizamentos, abismos e quedas de blocos, além de riscos biológicos como a presença de vírus, bactérias e fungos causadores de doenças como a Histoplasmose.
Desafios e oportunidades
O Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (2024) revela um dado preocupante: quase 44% das cavernas do país estão em áreas pleiteadas por mineração. Esta informação reforça a urgência de políticas públicas que conciliem preservação e uso sustentável.
Jadson Bezerra, pesquisador da Rede de Pesquisa e Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (funBIOS), destaca que o interesse científico nas cavernas vai muito além do turismo. "O turismo de cavernas, quando aliado à pesquisa, pode ser um instrumento de conservação", afirma.
Além da Terra Ronca, outras regiões goianas se destacam no cenário espeleológico, incluindo Vila Propício, Mambaí e Buritinópolis, todas consideradas ambientes relevantes para pesquisa científica.
Planejamento para uma experiência segura
Para quem deseja explorar as cavernas de Goiás, o planejamento prévio é essencial. Muitas regiões ainda estão em fase de estruturação turística, sendo fundamental:
- Contratar guias credenciados
- Verificar autorizações de visita
- Confirmar a existência do Plano de Manejo Espeleológico
Este documento, elaborado pelo proprietário da área e aprovado por órgãos oficiais (CECAV/ICMBio), atesta que a caverna não oferece riscos graves iminentes aos visitantes e possui resiliência ecológica suficiente para suportar a visitação humana regular.
À medida que Goiás avança na organização do turismo subterrâneo, o estado ganha não apenas visibilidade nacional, mas também a oportunidade de unir ciência, turismo e conservação, revelando ao mundo um patrimônio natural que permaneceu escondido sob o solo goiano por séculos.